Impunidade para quem precisa - Jornal Fato
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Impunidade para quem precisa


 

Em um site da internet, jovens descolados despejam violentas injúrias racistas sobre uma colega, e riem cinicamente ao comentar que uma ação contra eles não daria em nada - aliás, foi também o que disse um policial à vítima, desaconselhando-a a registrar a ocorrência. No Espírito Santo, um maníaco passou dez anos torturando a esposa e os filhos, matou pelo menos cinco mulheres, foi condenado a mais de cem anos de prisão, e, depois de quatro anos na cadeia está solto por aí, para terror dos familiares seus e das vítimas. O rapaz que tacou foto e matou um índio já está solto, passou em um concurso e conseguiu liminar para ser policial. Gente que estuprou e matou crianças há vinte anos continua livre, esperando julgamento. E não é raro ver o mesmo assaltante ser preso duas vezes na mesma semana, por crimes diferentes. São milhares de casos assim. Tem alguma autoridade aí preocupada com isso?

 

À vezes acho que não. Muito me intriga ver que a sociedade e as autoridades brasileiras não se mobilizam para discutir e solucionar um dos mais graves problemas relacionados à Justiça no Brasil: a impunidade.  Não se trata aqui de discutir sobre os fatores que levam à violência - as questões econômicas e sociais, os baixos investimentos em Educação que ocorreram ao longo de séculos no Brasil. Mas o fato é que os índices de criminalidade são assombrosos e ninguém duvida de que o brasileiro conta sempre com a falta de punição, ou, pelo menos, com os benefícios da lei. Afinal, como se diz no popular,aqui a polícia prende ea Justiça solta embora saibamos que o problema não é exatamente o Judiciário, e sim a legislação brasileira, que garante todo tipo de recurso e benefício para favorecer os criminosos.

 

Antigamente se dizia que o combate ao crime no Brasil utilizava o sistema PPP, ou seja, mandava para a cadeia somente pretos, pobres e prostitutas. Hoje pode-seapenas acrescentar mais um P à denominação, o que mostra que somos seletivos também para prender político corrupto.Equal é a vantagem de termos uma legislação seletiva, branda e condescendente?  Talvezo objetivo seja manter longe das prisões alguns iluminados: os poderosos, os playboys, as louras gostosas, os empresários sonegadores, a classe média, os amigos do rei.Para isso, aceita-se até que outros, da plebe rude, também sejam beneficiados.  E é claro que não importa se toda a sociedade vai sofrer as consequências dessa in-Justiça. O fundamental é manter nossa capacidade de libertar dos braços da lei os que se julgam fora de seu alcance. E assim continuaremos convivendo com a impunidade, enquanto houver entre nós quem precise dela.


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