Alhures - Jornal Fato
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Alhures


 

Li, certa vez, uma assertiva: Em um bom texto devem constar duas a três palavras cujo significado desconhecemos. Não sei se isto é verdade. Prefiro as coisas simples. Na natureza e no corpo humano as coisas simples são as mais efetivas. É verdade que, quando consultamos o dicionário e retornamos, a palavra desvendada enaltece a crônica e o texto ganha corpo e a imaginação também. Como tomar um bom vinho em uma taça apropriada.

Lembro-me de alguns textos. Um deles, anos atrás, falava de "notícias alvissareiras". Algo sobre a importância da nova Constituição brasileira. Na atualidade, a escolha da cidade para sediar a Olimpíada (Rio de Janeiro-2016) vem bem a propósito com a lembrança. Mas, "aí está o busílis", não pode ser esquecido, pois, assim como é animador e esperançoso, começo a ouvir que, aqueles que cobram transparência nas contas e orçamentos das obras de infraestrutura na Cidade Maravilhosa não teriam comportamento patriota. Isto é, corremos o risco de perdermos uma oportunidade de nos tornarmos uma Nação poderosa no esporte e no turismo, assim como Barcelona tornou-se um modelo de sucesso olímpico e turístico. Perdermos a chance pelo excesso ufanístico, falta de fiscalização das obras. Além da permanência do mosquito Aedes.

Pensei em Alhures, pois todos nós, mesmo por um momento na vida, gostaríamos e procuramos estar "em outro lugar". Li um conto, do séc. XV, um jovem para fugir a uma punição cumpre uma ordem da rainha, viaja pelo mundo em busca do maior desejo das mulheres. A liberdade foi o que uma senhora centenária sentenciou ao ser inquirida, mas o desejo da liberdade não fica restrito as mulheres. Os homens também a querem. Na verdade, não só os seres humanos. A liberdade pertence a todos os seres vivos.

Rubem Alves, escritor e professor paulista, descreve em um dos seus livros o relacionamento entre um menino e seu passarinho. O pássaro mostrava-se feliz com a amizade, das suas andanças pelo mundo sempre retornava com as notícias e através de um canto alegre as contava ao amigo. O menino gradativamente, pela imaturidade e insegurança, se apossa do passarinho por medo dele voar e não mais voltar, o aprisiona em uma gaiola, a mais bela das gaiolas, a mais linda e confortável das redondezas, mesmo assim, a tristeza toma conta do pássaro, ele lentamente adoece e esquece o canto. O menino percebe a tristeza com o aprisionamento e o liberta. Prefere a alegria e a satisfação de um novo encontro, mesmo com a incerteza da volta. Prefere o risco de ficar apenas com as lembranças.

A liberdade e o amor devem caminhar juntos. O amor que aprisiona é egoísta. Quando amamos, desejamos voltar sempre, não é necessário corrente. Os liames são afetivos. Afixados na alma. Os elos feitos de ferro enferrujam e se rompem. O amor quando em parceria com a liberdade nunca se encontra alhures. Com o corpo e alma livres, o amor se aproxima. 

 

Sergio Damião Santana Moraes

 


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