Especialista dá dicas para manter equilíbrio mental - Jornal Fato
Saúde

Especialista dá dicas para manter equilíbrio mental

Psicóloga Carolina Brito fala de limites para consumo de notícias sobre a doença e diferenças de necessidades, de acordo com a classe social


Arte: Lucas Albani

É normal, em meio à pandemia do novo coronavírus, se preocupar com a saúde, a família, a economia e a vida social - que agora sofre com restrições. O exagero, porém, pode trazer consequências graves à nossa saúde mental. Veja as dicas da psicóloga especializada em terapia comportamental pelo Instituto de Terapia por Contingências de Reforçamento (ITCR-Campinas) e doutora em Psicologia pela Ufes, Carolina Brito.

Na entrevista, ela fala sobre limites para consumo de notícias sobre a doença, as diferenças de necessidades, de acordo com a classe social, e também dá dicas para casais manterem o relacionamento saudável. Confira:

Que impacto essa situação de quarentena tem sobre nossa saúde mental?

É importante frisar que os impactos podem ser diferentes de acordo com cada contexto: existem pessoas que têm profissões que não podem parar e fazer a quarentena, estão expostos ao risco, e lidar com isso pode trazer consequências imensas, com o aumento de estresse neste período e que pode perdurar até mesmo quando cessar a pandemia. Se você está tendo a possibilidade de fazer o isolamento, de que forma isso está sendo feito? Porque a realidade em classes sociais diferentes é muito distinta. Enquanto a classe média e classe alta se impactam mais com a ausência de álcool gel, os de classe baixa se impactam mais com a impossibilidade de trabalhar.

Então, de uma forma geral, grande parte dos impactos referem-se a uma imposição de restrição da liberdade - você passa a sentir falta de fazer coisas que até então você não tinha o hábito de fazer, mas tinha a possibilidade de fazer. Por outro lado, a vivência em um período de tantas incertezas aumenta a sensação de medo. O medo é importante para a sobrevivência da nossa espécie: precisamos, sim, ter medo, até para não nos expormos excessivamente aos riscos e mudar os nossos hábitos, inclusive de higienização e distanciamento social. Mas a intensidade desse sentimento deve ser regulada.

O ser humano é forçado a se adaptar a essas situações. Como dizia Darwin, "não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças". Então, faz-se necessário colocar isso em prática agora e criar uma rotina alternativa para esse período, que minimize a intensidade desses sentimentos negativos.

Quais sentimentos essas mudanças repentinas na rotina podem desencadear?

Podem gerar diversas consequências, tais como aumentar o estresse e gerar principalmente sintomas de ansiedade e depressão, como angústia, sensação de falta de pertencimento, irritação, falta de concentração, medo de morrer, medo de perder o emprego.

Quais as orientações e as dicas para minimizar o desconforto provocado pelo isolamento social?

É importante as pessoas que estão em isolamento perceberem que não é um período de férias. Tem-se mais tempo livre, e é natural nos engajarmos em atividades que não eram tão rotineiras, como organizar a casa, maratonar as séries, ver os filmes que concorreram ao Oscar, fazer passeios virtuais por museus e atrações turísticas. Mas é de extrema importância se engajar em uma rotina associada à que você tinha antes da pandemia e aos seus objetivos de vida. Até porque, quando o isolamento passar, retomar a rotina bruscamente pode ser um fator estressor.


Segundo psicóloga, para evitar vulnerabilidade emocional, é preciso que casais aumentem diálogo nesse período (foto: arquivo pessoal)

Então, por exemplo, se você tinha como objetivo conseguir uma promoção no seu trabalho, agora você tem a possibilidade de se capacitar aprendendo ferramentas novas que vão te aproximar deste foco. E tudo isso em plataformas online e muitas vezes gratuitas, dá para fazer pelo celular e pelo computador. Além disso, a manutenção de atividades que se fazia anteriormente é importante: se você ia à igreja toda semana, assista às transmissões online; se você ia à academia diariamente, pratique atividades em casa com o auxílio de aplicativos gratuitos ou vídeos do Youtube; mantenha a terapia na modalidade online, é necessário cuidar da saúde mental também.

Quais os limites para o consumo de conteúdos sobre a pandemia?

O excesso de preocupação gera uma necessidade de consumo de conteúdos sobre a pandemia, então você se desconcentra das atividades que estão previstas na sua rotina e busca informações - nem sempre em fontes confiáveis - e acaba se mantendo por muito tempo nessa busca e gerando novamente um excesso de preocupação. E muitas vezes você acaba repassando as informações em outros grupos de Whatsapp, gerando mais pessoas com preocupação e acessando mais informações sobre o coronavírus. Vira uma bola de neve. Então, se estiver inevitável para você acompanhar as notícias sobre o andamento da pandemia, tire apenas uma hora por dia para fazer isso e, neste tempo, acesse informações de fontes confiáveis. Essa limitação de tempo vai fazer com que a ansiedade e as preocupações diminuam.

Você também trata de casais. Como os casais devem se portar para evitar uma crise no casamento?

Os casais devem observar que existe uma situação que gera uma vulnerabilidade emocional, e que, diante disso, tende-se a agir com maior intensidade nas emoções: ao invés de conversar, já começa-se a falar em tom de acusação e com o tom de voz mais elevado. Então, para evitar que a vulnerabilidade emocional deste momento afete o relacionamento, é de suma importância que se aumente o diálogo e que cada membro do casal consiga ter mais empatia com o outro, se colocar no lugar do outro e tentar entender o motivo de ele estar agindo de forma diferente da habitual.

As atividades juntos são importantes, então chame seu parceiro para praticar exercício, ver um filme, ouvir uma música, tomar um vinho. Mas também dê liberdade para atividades prazerosas que não são comuns do casal. E devemos lembrar que existem casais que não estão em isolamento juntos, então o uso da tecnologia pode favorecer. As mesmas atividades que você proporia caso ele estivesse próximo, proponha para fazerem juntos, à distância, conectados pela internet.

FONTE: ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESPÍRITO SANTO

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