Sedu: política educacional focada na aprendizagem - Jornal Fato
Política

Sedu: política educacional focada na aprendizagem


Secretário de Estado de Educação, Haroldo Rocha (Foto: Divulgação)

 

ADI-ES

 

O secretário de Estado de Educação, Haroldo Rocha, concedeu entrevista exclusiva para a reportagem da ADI/ES sobre como está se dando este processo de transformação na educação, como ele avalia o desempenho na área em 2016 e as projeções a partir dos projetos implantados este ano para 2017.

 

Quais as principais mudanças ocorridas na Educação em 2016?

 

Em 2016, vivemos o primeiro passo de consolidação das Escolas Vivas. Em 2015, tivemos os primeiros passos com a criação do programa e do projeto de Lei, a absolvição da metodologia e ainda colocamos a primeira escola para funcionar, que foi a de São Pedro. Este ano, foram mais cinco escolas. São Pedro ganhou mais vagas. Vieram as Escolas Vivas de Cachoeiro de Itapemirim, Ecoporanga, Muniz Freire e Serra. Isto marcou a história das Escolas Vivas e diminuiu enormemente as resistências das pessoas, que passaram a ver que não estávamos brincando de escolas de tempo integral. Era uma proposta nova e robusta.

 

E esta proposta diferenciada passou a ser bem aceita no meio acadêmico?

 

É natural que no primeiro momento as famílias não entendessem. No Brasil, existe um modelo mental de escola de meio expediente. Eu ouvia os jovens dizendo sobre tempo integral: Deus me livre, ficar lá o dia todo. Ou então a família questionava para que o menino deveria ficar o dia todo na escola. Estas ideias que geravam resistência acabaram em 2016. É uma marca do ano. Estamos próximos a 3 mil alunos. São 3 mil famílias vendo os filhos gostarem de ficar na escola. A Escola Viva é uma escola acolhedora. No início de 2017 vamos poder ver um pouco dos resultados obtidos com estas 5 escolas. Vamos poder medir os resultados de reprovação, de abandono da escola e também o resultado do aprendizado. É pouco tempo, mas já vamos ter indícios de que é uma escola de sucesso.

 

Quais são hoje os índices de reprovação e evasão nas escolas da rede estadual de ensino?

 

Estes são os grandes índices que teremos com a Escola Viva. Até porque com relação ao índice de aprendizagem o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) já mostrou que o Espírito Santo está em primeiro lugar no Brasil. Só não estamos no primeiro lugar porque nosso índice de reprovação e abandono é mais alto do que São Paulo, Goiás e Pernambuco. Nosso índice de aprendizagem é 4,5. Mas, nosso Ideb é 3,7. Isto porque nosso índice de aprovação de alunos é de 0,8. A filosofia do Ideb não leva em consideração apenas o índice de aprendizagem do aluno. Ele considera também os índices de abandono e reprovação. O Ideb observa a média das notas e o índice de aprovação. Em notas nossos meninos são os melhores do Brasil. Nós estamos em quarto lugar, porque os outros três estados estão com maiores índices de aprovação. Se a Escola Viva nos ajudar a melhorar o índice de abandono e o índice de reprovação, nós vamos ser o primeiro lugar no Ideb. Isto nós aprendemos com o Ideb que foi realizado em 2015 e divulgado em 2016. Todos da rede de ensino da Sedu entendem isto hoje. A orientação para 2017 é clara. Temos que trabalhar escola por escola para reduzir o índice de abandono e de reprovação.

 

"Nossos problemas hoje não podem ser mais fazer prédios e melhorar a remuneração dos professores. Eles já não ganham tão mal como ganhavam no passado"

 

Existe uma fórmula para fazer isto?

 

Claro. Quando a gente faz a matrícula toda online como estamos fazendo este ano, eliminamos o aluno fantasma. São alunos que se matriculam e nunca aparecem. Este vira aluno evadido. A partir de fevereiro, quando os professores passarem a ter um aplicativo para fazer a chamada no celular dele, teremos o controle online da frequência dos alunos de todo o sistema, série por série, escola por escola. O aluno que abandona é o infrequente. O que reprova é o que frequenta pouco a escola. O controle da frequência é fundamental para corrigir estas questões.

 

E vai saber também como está o comportamento destas escolas, que não estão sendo atrativas para os alunos a ponto de eles abandonarem os estudos.

 

Isto. Então voltando ao ponto: 2016 foi um ano muito positivo para a gente, não apenas pelo resultado do Ideb. Tínhamos a 11ª no ranking dos estados em 2013 e em 2015 pulamos para a 4ª posição.  O que levou a gente a isto? Notas. Reduzimos pouco as quantidades de abandono e reprovação. Compartilhamos estas informações nas escolas da rede estadual e todos aprendemos com elas. É uma boa herança de 2016. E tem outra ferramenta da educação que também está ajudando nossas escolas a aprenderem: é o projeto Jovem de Futuro. É uma metodologia de planejamento e melhoria de resultado. As escolas começam em 2017 com o planejamento concluído. Então, quando eu digo que em 2017 vamos reduzir o abandono e a reprovação é porque toda escola já tem planos construídos no projeto Jovem de Futuro para o próximo ano. 2016 foi uma mola impulsionadora tanto nas escolas de tempo integral quanto nas de meio expediente.

 

As Escolas Vivas são o grande projeto do governo na Educação, mas elas não caminham sozinhas. O governo tem outros projetos para dar sustentação a elas?

 

Em 2016, fizemos a construção das oito plataformas gratuitas que estão no Sedu Digit@l. Todos os alunos que têm um smarthfone pode estudar por ele. Ele também pode estudar em um tablet, com um computador de mesa, laptop ou no laboratório da escola. A estatística brasileira mostra que 80% da população têm um celular. Este índice é maior no meio dos jovens porque eles são mais conectados. O Sedu Digit@l também é uma marca de 2016. Em 2017, vamos precisar ter o professor cada vez mais engajado para lidar com esta plataforma e trazer os alunos para dentro delas.

 

"De nossas 500 escolas, mantemos, pelo menos, 100 em manutenção durante o ano inteiro"

 

A Sedu está interferindo diretamente nas questões pedagógicas, ao contrário de antes. É isto secretário?

 

Sua percepção está certíssima. Nós viemos de três décadas desesperadoras para a educação brasileira. Foi o período em que a população brasileira saiu do meio rural para vir para os meios urbanos. Até então, no meio rural, o acesso à educação era bem precário, com escolas rurais multisseriadas no primeiro ciclo do fundamental. Na década de 70, de cada quatro brasileiros, um tinha acesso ao ensino fundamental. Hoje, de cada quatro, todos têm acesso. Nestas três décadas, a Educação foi desafiada a se tornar universal. Tínhamos que criar um sistema educacional rápido e em condições absolutamente adversas. Nos anos 70, 80 e pedaço de anos 90, o país vivia uma crise econômica e fiscal terrível. Neste período, construíamos escolas de lajotão com teto de eternit. Eram apenas as salas de aula para atender a demanda, que era por vagas. Nesta época abriram mais prédios, mais vagas, o que levou a demanda por mais professores. Como a inflação era muito alta, ela comia o salário, o que levava o professor a ganhar cada vez mais. Isto degradou a remuneração do professor.

 

A renumeração do professor e a qualidade do ensino. A preocupação em criar vagas não levava a se preocupar com a questão qualidade de ensino.

 

A preocupação era criar vagas. Este período acabou. O Brasil se tornou urbano e o comportamento das pessoas mudou no que diz respeito à procriação. Em uma década, mudou a situação econômica, que trouxe mais recursos para a Educação e também houve a redução pela demanda por vagas, porque as pessoas estão tendo menos filhos. Com menos alunos, é possível dar uma atenção mais personalizada. Estamos agora nesta onda de melhorar a qualidade do ensino. Mudou a pauta. Nossos problemas hoje não podem ser mais fazer prédios e melhorar a remuneração dos professores. Eles já não ganham tão mal como ganhavam no passado, que era muito mal. Isto melhorou muito na última década.

 

Mas, ainda existe uma defasagem nos salários dos professores.

 

Ainda há o que melhorar. Mas não se pode raciocinar com o que o professor ganhava naquela época. Os salários cresceram em termos reais. É preciso esperar passar esta crise para retomar a melhoria dos salários dos professores para que tenhamos nas salas de aula os melhores profissionais. Então, o problema não é mais prédio. Apesar de ainda termos que melhorar os prédios também, porque as escolas hoje são instalações muito mais complexas.

 

"A escola precisa assumir como filosofia que é fundamental a participação dos pais na educação dos filhos para que eles se engajem no processo de aprendizagem"

 

Os prédios não são prioridade, mas alguns precisam de obras urgentes. O que teremos para 2017 neste sentido e para o interior do estado?

 

Temos duas estratégias de lidar com esta questão. Uma é a ação de manutenção. São consertos em banheiros, telhados etc. Fizemos em 2016 e vamos continuar em 2017. De nossas 500 escolas, mantemos, pelo menos, 100 em manutenção durante o ano inteiro. Nosso objetivo é manter as escolas em pleno uso, para não ter nada lacrado que não se pode ser usado. Tem manutenção de R$ 5 mil e outras de R$ 600 mil. Gastamos por ano, nesta atividade, entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões nas escolas da rede. Agora, obras de transformação das escolas, construção de quadras, auditórios, novas cozinhas, laboratórios de ciências, construir mais áreas ou alterar uma área para melhorar o que está lá está é muito difícil nesta conjuntura. Estou falando de uma escola completa como uma Escola Viva. São obras que demandam um orçamento aproximado de R$ 15 milhões para cada escola. Não temos dinheiro para isto. Estamos trabalhando em uma coisa, que a legislação prevê, que chamamos de aluguel sob encomenda: a gente chama empresários do setor imobiliário para que eles possam construir em um terreno que indicamos. Eles constroem a escola e nós alugamos. Não preciso do dinheiro para fazer o investimento, e eles constroem rápido. Em um ano tenho uma escola pronta.

 

As Escolas Vivas são o futuro de todas as escolas da Rede Estadual de Ensino?

 

Se cai o número de alunos, precisaremos de menos professores. Mas, se vou aumentar a carga horária do aluno, vou ter que aumentar a do professor. São dois movimentos, tudo em favor da educação. Teremos escola onde o professor é somente dela, com mais carga horária e melhor salário. Este movimento está em curso e precisa ser feito devagar.  Em 2017, teremos outro concurso.

 

Já está definido o número de vagas deste novo concurso?

 

Serão entre mil e mil e poucas. Estamos apurando ainda. É uma corrida de obstáculos, mas já está garantido para 2017. Queremos atrair novos jovens bem formados. Também queremos melhorar a formação do professor, sobretudo na plataforma digital para que ele possa trabalhar melhor com o aluno. O mínimo que um professor ganha para trabalhar em uma Escola Viva é R$ 4,2 mil. Isto em termos de mercado de trabalho é uma boa remuneração.

 

De que forma são escolhidos os diretores da Rede Estadual de Ensino?

 

Nossa metodologia é a seguinte: quando tem uma escola que vai ficar sem diretor porque ele vai se aposentar ou sair mesmo, publicamos no site da Sedu que na tal escola terá seleção de diretor.

 

"Se a Escola Viva nos ajudar a melhorar o índice de abandono e o índice de reprovação, nós vamos ser o primeiro lugar no Ideb"

 

É um processo de seleção interno?

 

Isto. Todo professor ou pedagogo nosso pode ser candidato a diretor na escola que ele quiser. É acessível a todos. Ele se inscreve, tem que ter uma proposta para a escola do que quer fazer lá. Isto vira um processo. É verificada a vida funcional dele, se ele falta muito, se entra com muito atestado médico, olhamos se ele mantém suas contas pessoais em dia, porque ele vai lidar com os recursos da escola. Estes dados são levados para o conselho da escola, que tem representantes de todos os membros que escolhe três ou mais nomes. Quem passa esta fase vai para análise de uma empresa especializada em seleção de pessoas contratada pela Sedu e faz uma bateria de testes para avaliação de suas competências, capacidade de decisão, de relacionamento, de raciocínio lógico. Assim é feito um laudo que entra no processo. Depois, ele vem para uma entrevista com nosso trio de gerentes de RH e psicóloga. Tudo é registrado. Eles tomam a decisão de qual o melhor para a escola. Só depois vem para mim. O processo é longo, demora em média dois meses. É um processo seletivo único. Ele é nomeado sem dever favor a ninguém, a político nenhum e nem a um colega da escola.

 

Como está a relação da escola com os pais?

 

As escolas lidam de forma equivocada com isto. As pessoas pensam que família na escola é chamar os pais para irem lá. Os pais trabalham, vão para uma reunião chata e saem falando mal da escola. E a escola fala mal deles. Esta relação truncada não ajuda. A escola precisa assumir como filosofia que é fundamental a participação dos pais na educação dos filhos para que eles se engajem no processo de aprendizagem. Eu tenho certeza de que todo pai quer que seu filho aprenda mais e evolua. Os professores querem isto também. Então não pode ficar um acusando o outro. Temos que criar alianças com eles. Isto se faz com campanhas de conscientização, intensificando a presença das famílias nas escolas para coisas agradáveis, construtivas e não para dar notícia ruim. Precisamos incrementar a comunicação escola-família, usando a tecnologia. Nesta matrícula, pela primeira vez, está sendo exigido o celular do pai, da mãe ou do responsável. O objetivo é mandar informações por meio do celular para os pais. Eles precisam saber que o filho faltou aula, que foi mal em uma matéria. Temos que trabalhar de forma parceira e complementar em favor do engajamento do aluno no processo de aprendizagem. Este é mais um conceito que será colocado na rede.

 

Em 2017, a Sedu vai colher os frutos de tudo o que plantou nestes dois últimos anos?

 

Estou muito otimista, apesar do momento de crise. Os professores estão bem orientados, tem boas ferramentas. Sei que o professor fica na expectativa de um aumento salarial. Mas, tratamos isto de forma transparente. Dizemos para eles: olhem para os exemplos do Rio de Janeiro, de Minas Gerais que nem pagamento tem. Nós pagamos rigorosamente em dia. Eles receberam o 13º salário e bônus em julho que pode chegar a um salário. Em 2017, eles vão receber este bônus. Quando a situação melhorar, vamos questionar se a escola está dando resultados.  Porque vou aumentar o salário de professor se os alunos não estão aprendendo? Se conseguirmos melhorar os resultados é um elemento a mais que reforça a possibilidade de melhoria salarial para quando a crise passar. Olhamos para 2016 e vemos que conseguimos melhor aprendizagem e melhor ambiente escolar que facilita a aprendizagem dos alunos.

 

"O mínimo que um professor ganha para trabalhar em uma Escola Viva é R$ 4,2 mil"

 

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