A informação é de que as pessoas que moram no conjunto estão sob o mando do medo (Foto: Arquivo/Fato)

 

Leandro Moreira

 

As lágrimas de alegria ao pegar a chave da casa própria no Residencial Esperança, no bairro Marbrasa, em Cachoeiro de Itapemirim, em fevereiro de 2016, simbolizam hoje o medo e terror. Há denúncia de que traficantes tomaram apartamentos de moradores e estabelecem as regras no local.

 

A denúncia foi feita por uma pessoa, moradora do conjunto habitacional, durante audiência pública sobre segurança realizada ontem na Câmara Municipal. A informação pegou de surpresa alguns vereadores que estavam presentes e também representantes da Polícia Militar.

 

"O residencial está sob o mando do medo. Tenho que, praticamente, bater continência a traficantes para entrar em minha própria casa", revelou a pessoa, que disse estar ameaçada pelos criminosos e que não tinha garantia se continuaria viva depois que deixasse as dependências da Câmara Municipal.

 

"São gritos durante a madrugada, moradores sendo ameaçados com a faca no pescoço. Há pressão, até mesmo, durante as assembleias de condomínio para que as decisões sejam conforme o interesse deles", disse.

 

A pessoa disse que o fato de não suportar tamanha humilhação a levou a denunciar o caso na audiência pública, e também em benefício a todos os moradores do conjunto. "Resolvi dar a minha cara a tapa. Quem não conhece a realidade pode pensar que os moradores do residencial não prestam. Não é isso. Lá só tem trabalhador, e são esses que sofrem nas mãos dos bandidos".

 

Ela também rebateu o discurso de que os contemplados com as residências pelo governo negociam o imóvel com bandidos. "Lá no Marbrasa, por exemplo, não existe isso. O bandido que está em um apartamento é porque expulsou o morador; e há também os que abandonaram o lar por medo".

 

A pessoa atacou ainda a falta de política social e de segurança após os festejos da entrega das 416 unidades habitacionais. "Infelizmente, conseguiram os votos; mas, o Estado não está preocupado com as vidas".

 

O subcomandante do 9º Batalhão da Polícia Militar, major Fernando Mayrink, garantiu que haverá uma ação efetiva das forças de segurança. Antes, ele expôs que sabia da existência de problemas no local, mas desconhecia a dimensão.

 

"É preciso que seja feita a denúncia anônima com a descrição das pessoas para que possamos fazer uma repressão qualificada. Isso tem que envolver outros órgãos, principalmente o social, para identificarmos a quem foi entregue cada casa. Algo será feito", garantiu.

 

Residencial

 

A entrega das 496 unidades habitacionais do bairro Marbrasa aconteceu no dia 19 de fevereiro do ano passado e faz parte do programa 'Minha Casa, Minha Vida', do governo federal. Para ser agraciado, a família deveria ter renda mensal de até R$ 1,6 mil. O contrato garantia a cada proprietário o pagamento de mensalidade no valor de até R$ 50.