TWINKIE, POU E OUTROS COMPANHEIROS - Jornal Fato
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TWINKIE, POU E OUTROS COMPANHEIROS


A vida de Kason (aí embaixo, na foto do Daily Mail), oito anos e portador de aguda Síndrome de Down, mudou pra melhor desde que ele ganhou Twinkie, leitãozinho nascido há dois meses. Seu novo e melhor amigo tem ajudado muito no tratamento da menino.

A família de Kason, contudo, enfrenta  inglória luta judicial em Coral Springs, na Flórida""EUA. Porcos não são animais domésticos, dizem as leis locais, e as autoridades, insensíveis, exigem o retorno de Twinkie à pocilga, sob pena de multa de 500 dólares/dia.

 

Antes que você pergunte por que a família não adotou bichinho mais convencional, Heather, mãe de Kason, explica que são terrivelmente alérgicos a pelos de cães, gatos e coelhos.

De cada dez mensagens recebidas em meu e-mail, oito são petições eletrônicas da Care2Causes. Nenhuma, até ontem, relacionada a Kason. Enquanto espero para assinar, passa um filminho na memória.

Era difícil ter um bichinho de estimação lá em casa. Além do impossível consenso dos cinco filhos sobre a escolha, o saudoso Mirandão tinha alma cigana e a gente vivia levantando acampamento.

Gatos, preferência de minha mãe, afeiçoavam-se mais às casas e nunca nos seguiam, os ingratos. Confortava-me a ideia de que sabiam se virar, não correndo o tolo risco canino e clichê de cair do caminhão de mudança.

Antes de abandonado por eles, eu testava sua capacidade de sempre cair sobre as quatro patas, saltando "" ou sendo saltados, aprendera nas primeiras letras no Pato Donald "" de alturas até dois pavimentos. Impressionantes acrobacias felinas!

Na infância em Marapé, tentei ser amigo do gato preto (o Bichano) da minha avó Mariquinha e do papagaio (o Louro), cego do olho direito. Além dos nomes óbvios e do apego exclusivo à dona, nenhum dos dois fazia graça pra criança.

(Nos dias de hoje, a tigresa Sai Mai pode adotar três porquinhos num zoológico da Tailândia, dando lição de tolerância a estúpidas autoridades americanas que não permitem a Kason ficar com Twinkie).

 

Voltando ao hot dog: meu sonho de ter um cachorro durou dez anos. O até então amistoso Jolie, da casa vizinha, temendo que eu fosse comer sua ração, deu um bote em minha boca, tocando canino com canino, num beijo de quase morte.

Além de seis pontos nos lábios "" as cicatrizes detonariam meu anteprojeto de bigode "" ganhei dolorosas vacinas antirrábicas. Tomei, claro,  compreensível pavor de cães até conhecer o inesquecível Tob (algumas linhas à frente).

Por prudência, a mascote infantil de Carol e Bia foi uma tartaruga, a Ritinha, comprada de um camelô em Niterói, para o sobrinho Philippe. Entre idas e vindas, a quelônia acabou ficando conosco.

Ritinha mudou meu conceito (e preconceitos) sobre animais domésticos. Era tão afeita à minha irmã que, certa vez, durante viagem desta, deprimiu-se com a falta dos afagos diários na cabeça, literalmente fria.

O abalo emocional resultou em grave prisão de ventre e greve de fome da saborosa dieta de alfaces. Foi salva pelo veterinário Hugo Zago Filho, que lhe prescreveu duas gotas/dia de azeite de oliva e papo materno às refeições.

Mandei construir, então, uma piscina pra Ritinha, com água renovável e pedras confortáveis pros seus banhos de sol. Batia papos memoráveis "" não mais de cinco minutos, pra não estressá-la "" com a amiguinha, que sabia tudo da minha vida.

 

(Nos dias de hoje, o chimpanzé órfão aí da foto adotou a cadela mastiff como mãe e todo mundo acha um barato. Na Rússia, porque a justiça americana não deixa Kason ficar com Twinkie, em Coral Springs).

Nos anos 90, nenhuma top model "" nem minha musa Cindy Crawford "" era mais charmosa que nossa tartaruga. As popozudas de hoje jamais aprenderiam as elegantes cruzadas e descruzadas de patas de uma verdadeira dama em alongamento matinal.

Ritinha partiu precoce e tragicamente, aos dezesseis anos "" teríamos que doá-la a um zoológico, crescera muito "" quando tomava sol no quintal da casa da praia. Cismou de esconder-se na garagem, atrás do pneu do carro e...

C-R-A-S-H! Foi um dos sons mais tenebrosos que ouvi, o do seu casco partido. Sacrificada por um veterinário da praia do Pontal, os prantos pela Ritinha só cessaram com a chegada do Tob, no mesmo verão de 1995.

Era lindo, e de personalidade à la Joaquim Barbosa, nosso primeiro dachshund. Reinou soberano por seis anos, quando passou a dividir espaço "" inclusive o box do meu banheiro "" com Theo José Miranda, que se pensa gente e, idoso saudável, está conosco até hoje.

 

Recentemente, Bia assanhou-se para comprar um mini-pig, mascote da moda. Ainda bem que foi em Vitória. (Estivesse na Flórida, teria sido presa pelas autoridades que não permitem que Kason fiquem com Twinkie).

Depois de alguma negociação "" síndicos e professores da Ufes poderiam implicar com George Clooney, o futuro baby pig "" concordamos em adotar Pou, um alien virtual, espécie de tamagotchi 2.0, que hoje vive em nossos androids.

Não sei o dela, mas meu Pou só pede pra tomar litros de vitaminas (parece Biotônico Fontoura) e banho umas seis vezes ao dia. Um chato com mania de limpeza.

Sensibilizado com o drama de Kason, e cansado de esperar a petição eletrônica que não veio, apelei ontem em mensagem reservada ao companheiro de Twitter, Barack Obama.

Se cachorro pode, quem sabe ele não descolava com a Dilma um passaporte diplomático pro Twinkie, dizendo ser ele amigo de fé, irmão camarada e parente próximo do labrador Nego, que ela herdou do Zé Dirceu?

Melhor não. Vai que Ali BáLulla e os 40 mensaleiros peguem carona na ideia e se mandem pra Coral Springs, via Baía dos Porcos?

Kason não merece companhias assim. Se eu fosse seu pai, trataria logo de ir arranjando uma iguana, tartaruga ou calopsita pra lhe fazer companhia.

Podem ser bichos exóticos, estranhos, mas confiáveis e incorruptíveis.

Pelas leis da Flórida ou daqui.

NOBREZA RESTAURADA

Monarquista convicto, já defendi Pelé e Roberto Carlos para o trono real do Bananão. Hoje, como Chico Caruso, estou com Joaquim I e não abro.

MISTÃ?RIOS CACHOEIRANOS "" Por que Gerson Moura, o saudoso chefe Touro Sentado, um dos fundadores do MDB cachoeirense, recusava-se a passar pela Av. Beira-Rio, entre 1978 e 1983?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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