MPF denuncia militar acusado de matar irmão de Valadão na ditadura - Jornal Fato
Geral

MPF denuncia militar acusado de matar irmão de Valadão na ditadura

Arildo Valadão foi morto e decapitado em 1973 a mando de José Brant Teixeira


Reprodução/Internet

Foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) do Pará (PA), nesta quarta-feira (29), o tenente-coronel do Exército, José Brant Teixeira, 85 anos, pelo assassinato de Arildo Valadão, irmão do ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim Roberto Valadão, no ano de 1973. O crime aconteceu durante a ditadura militar (1964-1985), no combate à Guerrilha do Araguaia.

A denúncia foi apresentada à Justiça Federal em Marabá (PA) e, se for aceita, Brant responderá por homicídio qualificado, agravado por motivo torpe, meio cruel, emboscada e ocultação de cadáver. De acordo com o MPF, Arildo, ou Ari como era chamado, foi decapitado a mando do então capitão do Exército brasileiro.

A ação foi assinada por sete procuradores da República e sustenta que José Brant Teixeira, conhecido na época como "Doutor César", participou da terceira e mais sangrenta fase do combate à Guerrilha do Araguaia, batizada de operação Marajoara.

Arildo Valadão foi morto em uma emboscada durante essa operação, em 24 de novembro de 1973. Após ser baleado, teve sua cabeça cortada e entregue a José Brant.

Como registra a denúncia do MPF, os executores eram camponeses da região do Araguaia e eram recrutados pelo Exército por meio de ameaças, torturas e coação. Eles não foram denunciados, porque o Ministério Público Federal entendeu que foram obrigados a cometer os crimes.

Sendo a denúncia aceita, os familiares de Ari devem receber indenização por danos materiais e morais. O acusado perderá o cargo público caso tiver, ou aposentadoria, bem como medalhas e condecorações obtidas durante a carreira militar.

 

Arildo Valadão

Arildo Valadão nasceu em Itaici, distrito de Muniz Freire, em 1948, mas foi estudar Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele se juntou aos guerrilheiros no Araguaia em 1970, após invasão de seu apartamento por agentes ligados à ditadura. Ari era casado com Áurea Elisa Pereira, também estudante de Física. Ela foi dada como desaparecida política e sua morte consta no relatório da Marinha com a data de 13 de junho de 1974.

Roberto Valadão diz que a Guerrilha do Araguaia foi a mais importante durante a ditadura militar e seu irmão foi um dos combatentes mais conhecidos. "Ele participou de todos os movimentos estudantis contra a ditadura quando estava na universidade, no Rio de Janeiro. Consequentemente, também, contra o combate que se fazia aos bravos companheiros da guerrilha do vale do Araguaia", menciona.

O ex-prefeito conta que esteve 14 dias no Pará e pôde ver as verdadeiras covardias que a ditadura cometia. "O exército chegava muito armado, excessivamente armado, com helicópteros e tudo mais, e aniquilava pessoas que encontravam pelo caminho. Meu irmão, infelizmente, foi um deles. Foi barbaramente assassinado. O governo, na época, não deu a menor atenção à família, não só do meu irmão, mas de nenhuma outra. E essa é a grande mágoa que ficou desse processo todo", desabafa.

Valadão afirma que o Brasil ainda tem que lutar muito para que não experimente de novo um período como foi o da ditadura militar, que em suas palavras, é a pior coisa que pode acontecer a um país e seu povo.

"O Ministério Público Federal, agora, depois de mais de 20 anos, denunciou a captura e também o barbarismo de tortura, essas coisas todas contra os guerrilheiros que eram homens democratas que estavam lutando para que o Brasil voltasse à democracia. E meu irmão, lamentavelmente, sofreu toda a perseguição de tortura, e o Ministério Público, eu não sabia até hoje, também estava nesse bloco de tormento. Infelizmente, o Brasil é assim", finaliza. 

 

José Brant Teixeira

José Brant Teixeira esteve vinculado ao Centro de Informações do Exército (CIE) de 1971 a 1979 e passou a prestar trabalhos para o Serviço Nacional de Informações (SNI). Chefiou a equipe do CIE que atuava na Casa da Morte (lugar conhecido como centro clandestino de tortura e assassinatos criado pelos órgãos de repressão da ditadura militar brasileira). Atuou na repressão da Guerrilha do Araguaia e participou da "Operação Limpeza" realizada em janeiro de 1975, que se destinou à ocultação dos corpos dos guerrilheiros e camponeses executados e ao encobrimento dos vestígios da atuação das forças repressivas.

Segundo a denúncia, Brant, usando o codinome "Doutor César", fingiu ser funcionário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária para se infiltrar na região do Araguaia, onde militares do PCdoB se reuniram para formar uma guerrilha e combater a ditadura militar.

Desde 1971, a ditadura tentou eliminar a guerrilha usando diferentes estratégias. Brant participou da última fase da operação de Marajoara, que tinha o objetivo de, segundo o MPF, "aniquilar as forças guerrilheiras atuantes na área e sua rede de apoio".

 

Comentários