Guimarães une ética tradição e modernidade - Jornal Fato
Especial

Guimarães une ética tradição e modernidade

Conceito à frente de seu tempo e que muitas escolas têm almejado nos dias atuais, é colocado em prática já há quase quatro décadas e meia


Foto: Ronaldo Santos

Oferecer ensino de qualidade, investindo na valorização do docente, com a proposta de aprimorar o ambiente escolar por meio de gestão democrática, abrangendo tanto a parte administrativa quanto a pedagógica.  

Conceito à frente de seu tempo e que muitas escolas têm almejado nos dias atuais, é colocado em prática já há quase quatro décadas e meia pelo icônico colégio cachoeirense Guimarães Rosa.

A história tem início quando um grupo formado por onze renomados professores locais, apaixonados pela profissão e oriundos da rede pública, se reúne, em setembro de 1974, com o objetivo de fundar um colégio particular de ensino médio.

"Deveria ter um número reduzido e fixo de alunos, para podermos acompanhar, conhecê-los bem, chamá-los pelo nome, que é importante, não pelo número...", revela David Alberto Lóss, um dos fundadores e diretor da Escola Guimarães Rosa por mais de três décadas.

Na época, havia uma carência na oferta de educação de 2º grau privada, obrigando muitos jovens cachoeirenses a se mudar para Vitória para estudar para o vestibular, ou até mesmo para o Rio de Janeiro.  

Integraram, com David Lóss, o grupo de sócios-fundadores Ailse Therezinha Cypresti Romanelli, Alício Franco, Ariette Moulin Costa, Dalton Nunes Batista, Gércia Ferreira Guimarães, Gláucia Moulin Coelho, Handuma Hemerly Elias Coelho, Isis Maria de Azevedo Gonçalves, Liene Freitas de Lima e Sandra Novais Coelho.

Eles conseguiram tornar o sonho realidade no dia 1º de março de 1975, que marca o início das aulas. A Escola Guimarães Rosa, em seu primeiro ano de vida, funcionou na Avenida Pinheiro Júnior, em uma casa alugada, pertencente à família de Benedito Machado, com duas salas de aula, cada uma com 31 alunos.

A procura por matrículas, no entanto, cresceu muito em 1976, obrigando os sócios a buscar um local maior para instalar o colégio e até a realizar todos os anos, a partir de então, uma prova de seleção.

Foi quando o Guimarães Rosa passou para o centenário prédio da Loja Maçônica Fraternidade e Luz, onde continua até hoje. A edificação, inaugurada em 1898, está situada na mítica Rua 25 de Março, uma espécie de corredor cultural da cidade.   

No imóvel, de número 100, funcionara por muitos anos uma tradicional escola pública estadual. Portanto, o prédio foi pintado com as cores da bandeira do Espírito Santo (rosa, branca e azul).

"Ao fecharmos o contrato de aluguel, nos comprometemos com a maçonaria a reformar o imóvel, fazer melhoramentos. O prédio rosa foi uma coincidência, ficou assim durante muito tempo. Depois, a maçonaria pediu para voltar a pintura original, que era na cor azul, explica David Lóss.    

Ele, que esteve à frente da administração da escola desde o início, em 1975, passou o bastão ao filho Fabrício em 2011.  

O atual diretor garante que, com muito esforço, a nova administração procura preservar a proposta original de priorizar a qualidade e não a quantidade.

Segundo Fabrício Mucelini Lóss, atualmente há 356 alunos, divididos em dez turmas, abrangendo as três séries do ensino médio.  

Dos onze fundadores, há cinco sócios remanescentes: David Lóss, Isis Maria de Azevedo Gonçalves, Handuma Hemerly Elias Coelho, Dalton Nunes Batista e Ariette Moulin Costa compõem um conselho administrativo e prestam auxílio diário à gestão. 

A Escola Guimarães Rosa e seus criadores representam parte da história viva da educação de Cachoeiro de Itapemirim. O colégio, contudo, não parou no tempo. Mescla modernidade e tradição para ofertar educação de ponta.

O Guimarães Rosa, na gestão de Fabrício, foi totalmente informatizado. E todas as salas têm recursos multimídia (data show, sonorização etc.), além de ar condicionado, garantindo o conforto de estudantes e professores. 

"Tentamos manter a essência da escola, que é conhecer o aluno, trabalhar

individualmente, conhecer as famílias", enumera o diretor.

Os gestores optaram por não crescer tanto, para manter o alto padrão de ensino. "A escola, em todos estes anos, poderia ter investido dinheiro para comprar um terreno e fazer um prédio, mas não é prédio bonito que faz escola... O dinheiro, o pouco que sobra aqui, volta para a melhoria das condições de trabalho ", alega David. 

Quando questionado sobre o segredo do sucesso do Guimarães Rosa, o diretor Fabrício Mucelini Lóss conclui: "o colégio foi fundado por professores com um objetivo que perdura até hoje. Os donos, os fundadores, nunca ficaram ricos aqui. Tudo foi revertido para a própria escola".

Quanto ao quadro de professores, o veterano educador David Lóss orgulha-se de dizer que: "a valorização do professor para nós é fundamental e começa pelo salário que ele recebe, muito acima da média... a escola só será boa se tiver professor valorizado. Como nós todos fomos professores e sentimos na pele isso tudo, seria incoerência ter uma escola e explorar o professor. O Guimarães Rosa, em suas quatro décadas e meia de existência, nunca sofreu uma ação trabalhista proposta por professores".

 

Aprendizado

Em consonância com a educação praticada em alguns dos países mais adiantados do mundo, o ensino no Guimarães Rosa preza pela liberdade com responsabilidade.  

"O colégio ensina o aluno a ter responsabilidade, a ter compromisso, a não depender só de pai mandar estudar...", conceitua David Lóss.  

A sócia-fundadora Isis Maria endossa: "quanto maior a liberdade, maior a responsabilidade".  

David chama a atenção para a ética, expondo duas orientações: "o aluno merece o máximo respeito, não pode ser doutrinado. E quem trabalha aqui não deve falar mal de outra escola em hipótese nenhuma".  

Com a experiência adquirida durante 30 anos ininterruptos na sala de aula, Isis complementa: "temos que fornecer todas as informações na maior neutralidade possível. Uma coisa são as nossas crenças, os nossos valores, outra é o conhecimento que a gente precisa ter... quanto mais você conhece aquilo que não concorda, mais argumentos tem para discordar". 

Comprovando a excelência do ensino prestado, estudantes do Guimarães constantemente obtêm destaque em olimpíadas científicas e em concorridos vestibulares.

Como resultado disso, há quantidade expressiva de ex-alunos "brilhando em diversos segmentos da sociedade. Só aqui em Cachoeiro, por exemplo, tem oito juízes, três ou quatro promotores... isso é um estímulo para continuarmos a busca incessante por uma educação de qualidade e ética", comemora David Lóss. 

 

Nome

O mineiro João Guimarães Rosa (1908 -1967) é considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

A sugestão de batizar o colégio em sua homenagem partiu da sócia-fundadora Isis Maria de Azevedo Gonçalves.

Professora de Literatura aposentada, ela esclarece que o motivo foi a reconhecida característica do célebre romancista "de sempre procurar fazer o melhor possível na maior simplicidade, conceito adotado como  proposta pela escola". 

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