Parece que foi ontem - Jornal Fato
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Parece que foi ontem


O título não é um plágio deliberado ao do livro do Sérgio Garschagen.

 

É uma constatação num momento em que reúno material de arquivo para a conclusão de um trabalho. Gente que conheço de longa data com cara de aluno do maternalzinho ou do jardim de infância.

 

Muito interessante. Pelo menos vejo que o tempo passou para todo mundo, embora me sinta sempre jovem pela convivência com colegas de trabalho na casa dos vinte e poucos anos, que comentam, na maior simplicidade, que "fulana é velha, ela já tem 40", referindo-se a outras mais que balzaquianas.

 

Não sei se rio ou choro, mas acabo mesmo é rindo. Eu me sentindo a juventude em pessoa e sendo jogada para a terceira idade, sem dó nem piedade, pelos meus jovens amigos. Acho que preciso mudar as companhias.

 

Esta volta fotográfica ao passado me fez lembrar de outra situação, também relacionada ao trabalho. Tenho alguma experiência com assessoria parlamentar e campanhas eleitorais.

 

Trabalhei a maior parte de minha vida profissional com assessoria política. Por este motivo, certamente por referência de alguém, fui convidada pelo então jovem e vereador recém-eleito Glauber Coelho para uma conversa.

 

Esse texto é pertinente, e triste, na semana em que nos lembramos das orações, lágrimas e sofrimento pelo milagre não alcançado, apesar de nossa fé inabalável.

 

Quando me chamou para trabalhar, Glauber disse que precisava de uma profissional com experiência, o que esperava de mim e se eu estava disposta a assessorá-lo. 

 

Feliz da vida pela lembrança, disse que sim de imediato. O pior veio depois. "Olha, Anete, seja bem-vinda, você vai ser como uma mãe para mim em nossa equipe".

 

O que veio a partir daí ficou perdido no meio do caminho, não me lembro mais, pois o choque foi imediato, fulminante e inesquecível, apesar da mãe dele, Dona Vilma, ser linda e a pessoa mais gentil que conheço. Caramba, pensei, eu me sentindo irmã e ele me nomeando mãe.

 

Depois do choque, as risadas, porque fiz questão de dizer que trabalharia, mas que ele seria eternamente responsável por me fazer ver que havia envelhecido.

 

Parece que foi ontem, mas mais de 15 anos se passaram. Foram muitas experiências e aprendizado com um jovem para quem a negativa não era uma resposta facilmente assimilada e aceita.

 

Com alguns anos de estrada, aprendi que podemos insistir um pouco mais, com ousadia e coragem. Recebi o papel de mãe da equipe, mas aprendi muito. Fiz amigos eternos, queridos, mais chegados que irmãos.

 

Se o tempo é implacável, pelo menos é democrático. Alcança a todos indistintamente. Mas confesso que procuro qualificar-me, aprendendo sobre novas mídias por exemplo, para que tenha o que conversar com meus jovens amigos, e também como trabalhar em qualquer tempo.

 

Sabendo que ainda vou ouvir, de forma até pura, que sou respeitada não apenas porque sou uma boa profissional, mas porque sou uma senhora. Confesso que não me sinto uma senhora, embora de algum tempo já venha sendo chamada de Dona Anete.

 

Fazer o quê né? Nada que nascer de novo não resolva.


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