Para sempre felizes - Jornal Fato
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Para sempre felizes


Não era apenas uma tarde de verão onde as pessoas ou estavam trabalhando ou estavam na praia. Não era apenas um céu de um azul perfeito e temperatura perto de quarenta graus. Não era apenas a noite que demoraria a chegar e o tempo que faltava para o primeiro boteco abrir as suas portas. Não eram apenas escolas fechadas por causa das férias e os bancos abertos por causa do dinheiro. Não eram apenas as crianças que tomavam picolé, as flores murchas nos canteiros da casa da esquina ou as meninas que prendiam o cabelo em coques altos para driblar o calor. Não era apenas segunda-feira. Não eram apenas as notícias da manhã e que naquela hora já estavam antigas.

 

Era mais que isso.

 

Era um quarto e duas pessoas. Era uma força de atração surgida antes do primeiro beijo. Na verdade, antes do primeiro olhar. Sabiam-se e desejavam-se ainda antes de existirem. Era o encanto do olhar que brilha, a força de um abraço sem fim, as mãos que viajavam os corpos, a respiração ofegante e o corpo, quase exausto, pedindo um pouco mais. Eram as horas insistindo em correr quando o certo era parar. Eram dois celulares insistindo em tocar quando o certo era que sumissem. Era a vida chamando lá fora quando na verdade era ali dentro que ela pulsava.

 

Não era mentira, era verdade. Não era piada, era sério. Não era brisa, era vendaval. Não era aos poucos, era tudo de uma vez. Não era a ponta dos pés, era o corpo inteiro. Não era sonho, era realidade. Não era televisão, era cinema. Não era soneto, era poesia. Não era água e sal, era vinho e pimenta.

 

E era mais.

 

Era melhor que lua cheia, que barulhinho de chuva, que cheiro de café, que brigadeiro de colher e que sorvete de creme. Era melhor que sapato novo, que cafuné, que feijão com arroz feitos pela mãe e que dia de pagamento.

 

Não era amor, era mais que isso.

 

Não foi só aquela segunda-feira quente de verão, quando abriram mão de tudo para estarem ali. Foi o dia seguinte, o outro e o outro. Foi o ano que veio em seguida e foram todos os outros anos. Foi para sempre, e para sempre foram felizes.


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