Em tempos difíceis como os de agora, amar precisa ser logo e urgente. E não vale o amor que quer moldar. O amor que espera que o outro pare de beber, de fumar, de jogar, de escrever, de trabalhar demais ou de só dormir quando o dia está nascendo. Não vale o amor "apesar de". Vale o amor completo, na ordem e na desordem de todos os dias. Vale o amor que não busca que o outro seja o reflexo perfeito de nossas expectativas.

 

O que muda o dia, a vida e o mundo é o amor que sobrevive a rivalidade do futebol de domingo, aos lados opostos no dia da eleição, ao cansaço do final do dia. O que muda tudo é que o amor pela essência não queira mudar todo o resto. Não precisa emagrecer ou cortar o cabelo. Não precisa roupa nova, perfume importado nem copo de cristal. Brindes com copos de requeijão cremoso ou extrato de tomate podem ser bem mais festivos se a festa maior estiver acontecendo dentro da gente.

 

Vale o amor em que os amigos do outro não incomodam, mas agregam. Que a família do outro não seja empecilho, mas refúgio. Que o esquecimento do outro seja mais motivo de riso do que de brigas. Que os desentendimentos com o outro sejam mais aprendizados que afastamentos. Que a dor do outro seja respeitada e amparada no abraço sempre ao alcance.

 

Em tempos difíceis como os de agora, é preciso encontrar alguém que nos ame, que esse amor seja recíproco e que ele se renove todos os dias. É preciso que esse amor tenho o comprometimento de sempre, que seja declarado todas as horas e que dê segurança o tempo todo. É preciso que o amor seja dito, expressado e contado em prosa e verso, ainda que no segredo das paredes que blindam e abrigam as maledicências das ruas.

 

Vale que o amor mova os passos, as asas e o compasso dos corações. Vale que seja e verdade, e que essa verdade seja quase tudo que a gente precisa. Vale que essa verdade seja alimento, água e ar. Vale que nos desperte sorrisos. E que saiba perdoar, porque esse amor sabe que não dá para acertar sempre, mas dá para tentar ser o melhor que pode.