Irmã Margarida Maria, um ícone - Jornal Fato
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Irmã Margarida Maria, um ícone


Em novembro somos levados a lembrar das pessoas queridas que partiram. Hoje me recordo de uma que fez parte intensamente da minha vida: a saudosa Irmã Margarida Maria, cujo nome nos documentos de identidade era Antonieta Soutinho Baracho, nascida em 21 de outubro de 1912, em Anchieta. Quando descobri o seu nome, fiquei encantada. Pouca gente tinha essa informação valiosa. Sempre vestida de hábito, ora todo branco, ora bege claro, o véu era um acessório indispensável. E eu tinha uma curiosidade de vê-la sem o véu. Tentava imaginar como seria o cabelo que adornava aquele rosto de traços fortes.

 

Irmã Margarida era da mesma congregação da Madre Gertrudes, fundadora do Colégio Jesus Cristo Rei. Mas quando ela entrou na nossa família, atuava na escola Álvaro Tavares, na periferia. A escola até hoje para muitos é conhecida como a escola da Irmã Margarida.  Quando minha mãe começou a trabalhar lá, eu tinha quatro anos. 

 

Na década de 70, o acesso era pela linha de ônibus da Viação Marapé, porque a área era considerada rural.  A entrada se dava por uma porteira preta e o local era muito arborizado com frondosos pés de jamelão, jaca, manga, romã entre outras delícias. O bairro União ia surgindo em torno da Cerâmica São Braz e a escola.

 

Irmã Margarida era temida pelos professores e alunos. Rotineiramente, adentrava às salas de aula, colocava a professora de escanteio e nos argüia. A tabuada era uma de suas argüições preferidas. E aí de quem não a soubesse na ponta da língua. Chorava menino e chorava a mestre. Era um desespero! As vestes que usávamos na escola tinham que ter um comprimento na altura do joelho. Se não...... não gosto nem de lembrar.

 

A Irmã era um misto de ternura e bravura. Pouca vezes a vi fazer um afago ou ser dócil. Como eu era filha daquela que se tornara uma filha para ela tinha algumas raras regalias. Certo dia, no catecismo, ela me chamou fora da sala, tirou algumas moedas da bolso do e me disse ao pé do ouvido. "Vai lá na cantina comprar algo para comer. Vai rápido".

 

Isso não seria estranho, se não estivéssemos em jejum nos preparando para recebermos a primeira eucaristia.  Creio que ela ficou com dó de mim, deixando o amor falar mais alto.  Caridosa, me presenteou com um vestido branco cheio de bordados, filó e miçangas para usar no dia da primeira comunhão.  Fiquei igual uma noivinha.

 

Também veio dela o primeiro presente da minha irmã Dani, quando soube que minha estava grávida. Um joguinho com seis blusinhas, com os quais eu adorava brincar de lojinha. Eram lindos, com cores suaves do verde água ao lilás. E tinham um cheirinho delicioso de neném.

 

Para conviver com ela tinha que ser forte. Ela não suportava fraquezas.  Irmã Margarida com seu jipe, percorria Cachoeiro, pedindo doações no comércio. Depois vieram os fuscas. O amarelo, com placa 1962, o branco....... Assim Irmã Margarida foi escrevendo a sua história na vida de tanta gente! Agora, sinto prazer em escrever um tímido relato da sua vida na minha.

 


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