Iniciando uma nova partida - Jornal Fato
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Iniciando uma nova partida


Se, até aqui, a vida da gente foi sucesso ou fracasso, vamos avaliar dependendo do momento. Se você está na fase de sonhar com um grande amor, um príncipe encantado e uma família grande e feliz e tudo o que você tem é o emprego dos sonhos de muita gente, desses de ganhar muito dinheiro e viajar o mundo todo, vai, com certeza, responder que não teve sucesso. Se tem um marido apaixonado, uma casa linda e filhos que parecem saído do comercial de margarina, mas não conseguiu alavancar sua vida profissional, também vai dizer que fracassou. E se você tem tudo, casa, família, príncipe e emprego, mas acordou de ovo virado, sua resposta vai ser a mesma. Porque sucesso é, quase sempre, aquilo que nos faz feliz aquela hora. Não no sentido de ser efêmero, mas no sentido de satisfação. Do frio na barriga. Há doentes terminais gratos por cada segundo de vida. E pessoas que gozam de saúde perfeita se entupindo de remédios para mascarar o desespero da unha quebrada, reclamando do calor, do frio, da chuva ou do ar poluído. Há aqueles que pegam dois, quatro ou seis ônibus por dia e sorriem por nada, e os que, dentro de seus carros caros com ar-condicionado, choram por tudo. É o momento. Ou a pessoa. Porque existem aqueles que desistimos de perguntar se está tudo bem, já que nunca está, e depois da pergunta vem a mesma ladainha de ontem, antes de ontem e ano passado.

 

Em cada etapa da vida alimentamos sonhos e desejos diversos, e vivemos lindas ou péssimas fases. Do desespero aos maiores sorrisos todos nós já fomos, como, por exemplo, ser abandonada e depois descobrir como é possível ser feliz só, e de como é bom ter liberdade ou então encontrar um novo amor, desses que tiram o fôlego. Ter uma vida cercada de conforto e aprender, lá na frente, que é possível e, por vezes, mais prazeroso, viver com menos - apenas aquilo que é realmente necessário. Também pode ser o contrário. Acordar sorrindo e bater o cotovelo na porta é desanimador. Ou tropeçar no buraco da calçada, sujar o vestido branco novo de molho de tomate, quebrar o salto do sapato a caminho de uma reunião importante, receber uma ligação cancelando o tão esperando encontro ou falar com o telemarketing de alguma empresa prestadora de serviços.

 

O bem-estar que tanto buscamos muda como o vento e como todas as coisas. Manter o bom humor no meio desse turbilhão que é a vida é tarefa difícil. Afinal, as redes sociais estão cheias de motivos para acreditarmos que a grama do vizinho é mais verde sim senhor. E, mesmo quando queremos apenas recomeçar, não há cronômetro que zere o que já foi.

 

O que cabe a nós, meros mortais reclamantes, é que não reclamemos tanto. Como dizem os mais sabidos, murmurar é orar para o diabo. Não deixemos que a ansiedade, essa amiguinha que nos assombra dia e noite, se apodere de nossa energia. Não bata a cabeça na parede e nem deixe que suas pernas fiquem inquietas. Não dê motivos para que nos achem pobres coitadas. Não vamos permitir, nunca, em tempo algum, que o sentimento que despertamos seja pena. Não precisamos ser sempre resignadas, mas que essa vontade de ser feliz sempre e urgentemente não vire desespero. Há um tempo para tudo. Que saibamos esperar com o olhar tranquilo como o daquele senhor que joga xadrez na praça, e que, quando ganha, comemora. Mas, quando perde, apenas inicia uma nova partida.


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