História fantástica - Jornal Fato
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História fantástica


Como artista, costumo ligar minha antena "delicadíssima", parafraseando Newton Braga, para perceber as coisas que sempre, de alguma forma, me evocam E, por conta dessa "percepção", costumo pairar minhas reflexões sobre alguns hemisférios.

 

O discurso de ódio e de intolerância tem ganhado cenários e roteiros, espalhando-se, com eficiência, se pode assim dizer, entre as vozes das diferentes mídias. Esses ecos têm gerido sujeitos cada vez menos humanos e descomprometidos com a beleza que é viver em grupo.

 

Por outro lado, percebo com esta "antena" que somos capazes de produzir maravilhas, fomentando no outro o desejo de crescimento e de percepção além das bordas, como presenciei no sábado no Encontro de Literatura Fantástica, acontecido em nossa cidade.

 

Foi bonito ver um grupo disposto a levar grandes ideias e questionamentos sobre a arte literária, em especial a literatura fantástica, que nos possibilita redimensionar as histórias narrativas, por meio das figuras de heróis, guerreiros, vilões e de mundos que fazem parte de uma inventividade, tão indispensável para que continuemos acreditar nesta humanidade, a qual tantas vezes nos fere.

 

A literatura dimensiona nossas vivências, recriando tantas possibilidades para que, no plano da ficção, consigamos refletir toda a problemática do mundo real (e são tantas). A arte literária, sejam poemas, contos, crônicas e histórias de heróis, ressignifica os papéis dos sujeitos diante do caos e da ordem, diante do discurso da moralidade e das condutas, transcendendo-os.

 

Neste encontro, pude vislumbrar que há sujeitos alinhados a outros para que a arte continue exercer o papel de humanização, por meio da criatividade e de uma linguagem única. Logo, autor e leitor convertem-se em personagens centrais de uma história a fim de que tenhamos um mundo menos excludente, egoísta e anestesiado, tão sonhado por nossos heróis das histórias fantásticas.

 

Escrever boas histórias requer dos autores a responsabilidade em evidenciar o que se mantinha soturno, sem amparo, construindo a "segunda pele" e a "cápsula protetora", como bem sugere Calcanhoto, quando descreve a função do artista na música Esquadros. Desta forma, alimentaremos a vida de sonhos e fantasias, tão importantes para que o homem suporte, com poesia e sensibilidade,  sua existência.


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