Fechado para balanço - Jornal Fato
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Fechado para balanço


Finados já foi faz tempo, o feriadão da Proclamação da República também; a Black Friday já passou, e o fim de ano se aproxima agora mais rapidamente ainda - tempus fugit, nobre amigo. Estamos na época do Advento e daqui a instantes será Natal e em seguida, Ano Novo. Um piscar de olhos e estaremos em 2017. E, como é de costume nesta época do ano, todos os anos invariavelmente, as pessoas se veem cobradas a fazer um balanço de como foi o ano que passou; o que elas fizeram e o que deixaram de fazer.

 

Aquele regime que deveria ter começado no primeiro dia de janeiro; a academia para enxugar os pneuzinhos da cintura; a quitação do financiamento da casa própria; a compra do carro novo. Uma viagem à Europa; quem sabe uma cirurgia plástica, coisinha à toa, para retirar uns excessos aqui ou acrescentar alguma coisa ali. São algumas das famosas resoluções de Ano Novo, que quase sempre não se resolvem, ou quando são resolvidas, o são em parte.

 

E eu, mas como assim, e eu? Se eu faço resoluções de Ano Novo, ou se faço um balanço do que fiz no ano que está por se encerrar? Deixe-me pensar um pouco. Resoluções de Ano Novo, não; quando muito planejo - ou sonho, melhor dizendo - para onde gostaria de ir nas férias. Prefiro ao longo do ano tomar as decisões que melhor se adequem à situações que vão surgindo - em casa e no trabalho - mas não há nada previamente definido ou planejado. Balanço? Bom, aí a conversa começa a tomar outro rumo.

 

Há momentos, sim - e nem precisa ser no final do ano - em que paro para pensar no que tenho feito na e da minha vida. E, para surpresa minha, inclusive, percebo que me dou por satisfeito pelo resultado até aqui alcançado. Apesar de eu ainda ser bastante rigoroso no trato profissional e também nos relacionamentos pessoais, tenho flexibilizado muito minhas resoluções, por assim dizer. Percebi, com o passar do tempo, que rigor excessivo não conserta, apenas acaba de quebrar o que já não está funcionando muito direito, entre outras coisas.

 

Decidi então, há alguns anos atrás, diminuir meu ritmo - não, nada de morcegar ou abandonar meus princípios. Apenas percebi que eu me levava muito a sério, a mim mesmo e ao papel que eu desempenhava no meu emprego. Não que eu me achasse o tal, apenas me aplicava excessivamente no que eu fazia. Até que, por vários motivos que não vou elencar aqui, percebi que a vida era - e é - muito curta para tanto desgaste.

 

Passei a diminuir meu ritmo, abandonei certos hábitos, deixei de querer ter sempre razão. Passei a respirar mais profunda e lentamente e tentar levar cada dia de uma vez, sem me preocupar com o próximo. Digamos que um pouco de irresponsabilidade tenha me feito bem. Tento aproveitar o tempo que tenho da melhor forma possível, em casa, no lazer ou no trabalho, para depois não me arrepender.

 

Mas ele foge, irreversivelmente o tempo foge. Virgílio.


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