Estupro. E os cristãos com isso? - Jornal Fato
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Estupro. E os cristãos com isso?


 

"Há uma cultura violenta à mulher. O estupro coletivo de ontem não foi um evento isolado. Um mero acaso. Acidental. Não. Trata-se de um paradigma histórico, de um machismo ritualizado, silenciado e naturalizado. E nós temos que colocar um fim nestas lógicas e práticas bárbaras que assassinam milhares de mulheres todos os anos, vítimas da monstruosidade machista".

 

Inicio meu artigo de hoje com fragmentos do texto do pastor Fellipe dos Anjos, da Redenção _ Igreja Batista,de São Gonçalo - RJ, que tem feito diferença, ao viver o Evangelho, tirando-o da teoria confortável dos palanques em que os púlpitos foram transformados.

 

Ele, claro, se refere ao estupro coletivo sofrido por uma jovem,  por vingança, e determinado pelo namorado. O roteiro, creio já ser do conhecimento de todos. Mas o pastor vai mais além. 

 

" Pedimos perdão a Deus pela omissão sistemática e cultural dos cristãos no Brasil em denunciar opressões machistas que fundam e naturalizam maldades como as que te afetaram, menina querida. Quando as igrejas silenciam diante de expressões categóricas de machismo e de inferiorização da mulher, elas se tornam cúmplices da escalada da violência e facilitam a criação de uma plataforma social em cima da qual pessoas são agredidas, envergonhadas e segregadas.

 

Pedimos perdão a Deus pela seletividade do nosso cuidado e pela baixa intensidade ética do nosso amor. Perdão, Deus, porque privatizamos o amor aos encontros e discursos religiosos ao invés de transformá-lo na alegria pública que anima e sustenta nossas relações."

 

Para os que frequentam a igreja esporadicamente, essas palavras, vindas de um pastor, mostram que ainda há esperança. Que existem líderes religiosos que estão indo além do próprio umbigo, que saíram da zona de conforto para elevar suas vozes e clamar pelos fracos, desprezados e oprimidos. Clamar e agir.

 

Sim. Ainda há esperanças. Essa igreja saiu das quatro paredes. Realiza um trabalho social sério. E agora dá para ver porque. O seu pastor levantou a voz e convocou a igreja para fazer um culto-protesto por uma menina que foi barbaramente estuprada.

 

"Aqui na ?Redenção? a luta contra todas as formas de violências que afetam as mulheres é constante. E esta luta está na nossa pauta comunitária porque acreditamos que a Bíblia e a revelação de Jesus de Nazaré nos apresentam muitas palavras e experiências de liberdade que podem se converter em potência de resistência à violência contra mulher. Estes conteúdos bíblicos e narrativas sobre Jesus de Nazaré constituem denúncia à opressão machista e nos colocam em movimento nas causas e lutas de todas as mulheres!

 

Por isso tudo e porque queremos manter nossa identidade de permitir que as realidades gritantes das cidades interfiram no cotidiano da nossa espiritualidade, deixar que as dores do mundo atravessem nossas místicas, embarguem nossos cantos, inundem nossos olhos e revolucionem nossas orações egoístas.

 

Quero convidá-las para que no próximo domingo, às 19h, façamos um culto em solidariedade e respeito radical a todas as mulheres que vivem sob o clima do medo e da violência. E também para orarmos juntos pela vida da menina querida! 

 

Queremos fazer um culto-protesto à cultura do estupro e ao machismo estruturante que marca as relações, inclusive e principalmente dentro de algumas comunidades cristãs."

 

Culto-protesto por uma menina querida e desconhecida. Ainda há esperanças. Eu quero mais desse cristianismo não seletivo.


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