E que se afastem os ?fakes?? - Jornal Fato
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E que se afastem os ?fakes??


Nem só de redes sociais vivem os "fakes", termo em inglês para designar falsos ou falsificações, e que atualmente é usado como definição de perfis fictícios que têm como objetivo esconder a identidade verdadeira, o que pode acontecer apenas por diversão, mas também para constranger e ameaçar sem risco de represálias. De pessoas inventadas o mundo virtual, o inferno e a vida real estão cheios.

 

Algumas pessoas - pasmem! - acordam de bom humor. Até aí tudo bem. Na individualidade de ser o que é cada um acorda de um jeito. Mas outras pessoas - e pasmem ainda mais! - mantém o bom humor durante o dia inteiro, todos os dias da semana, ainda que batam o cotovelo na parede ou esbarrem com o dedão do pé na porta. Sorriem - é o que dizem - enquanto falam com os atendentes de telemarketing da operadora do celular, da TV a cabo ou do cartão de crédito. Juram que não importa se faz frio ou calor, se é noite ou dia, se o chuveiro queimou na hora que o cabelo estava ensaboado ou se o celular novo caiu do décimo andar. Simpatia é o sobrenome dessa gente.

 

Brincadeiras à parte, porque há nisso tudo um certo exagero, os "fakes" moram ali ao lado. Estão nas repartições públicas, nas praças, nos bancos, nas escolas e no bar da esquina. Muitas vezes disfarçados de barbeiros, lojistas, advogados, fotógrafos ou garçons. Outras vezes, o que é pior, disfarçam-se de amigos. E te iludem e enganam pelo simples prazer de iludir e enganar porque são essas suas principais habilidades e porque, como vampiros do mundo moderno, alimentam-se do mal que causam.

 

Essas pessoas carregam o sorriso largo constantemente. Trazem a ousadia de se dizerem alegres o tempo todo e juram, mostrando dedos não cruzados, que amam todo mundo. Falam que todos são lindos, que nunca, jamais carregam uma mágoa, que são justos e nobres e estão sempre prontos para ajudar, embora sua ajuda seja melhor recusar. O preço pode ser alto. Estão sempre dispostos a estender uma mão, mas é sempre bom procurar saber o que faz a mão que ficou no bolso.

 

Pessoas comuns amam, odeiam ou sentem indiferença. Pessoas comuns sentem preguiça e querem ficar mais um pouquinho na cama quando chega segunda-feira. Pessoas comuns erram, pedem desculpas, erram de novo, falam sem pensar, sentem dor de barriga, ajudam quando podem, dizem não quando não há o que fazer. Pessoas comuns podem aparecer de cabelo despenteado, sem maquiagem ou com a roupa amarrotada. Pegam emprestado, esquecem de devolver e devolvem outro dia. Alguns gostam de gatos, outros de cachorros, outros de passarinhos e um outro tanto não gosta de bicho. Pessoas comuns desanimam, ficam doentes, choram, dão gargalhada, falam palavrão, acreditam ou não em Deus, comem chocolate escondido e sentem vontade de viajar a pé, de avião ou de navio, mas, de alguma forma, às vezes querem ir.

 

Para mim, qualquer coisa que fuja da variação de hormônio, problema, frescura ou afinidade é insano. Não dá para amar todo mundo. Não dá para ser feliz o tempo todo. Não dá para acertar sempre. Eu fico com a pureza dos que não vestem máscaras e que tem a coragem de dizer que naquela noite estava muito frio e por isso dormiram sem banho. Ser uma louca concreta faz de mim uma pessoa melhor que uma princesa forjada.

 


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