E agora José? - Jornal Fato
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E agora José?


Hoje, repetindo Drummond, acordei com essa pergunta na cabeça. E agora José?

 

"E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José?

 

... E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora?"

 

Mesmo no meio à dúvidas, os últimos dias foram de comemorações pessoais variadas, em função de aniversários na família e outras boas notícias ansiosamente esperadas. 

 

Meu pai completou 80 anos cheio de saúde, disposição e vitalidade e fizemos um culto para agradecer por sua vida. Minha filha mais velha completou 19 anos, foi para a universidade e teoricamente tem um mundo inteiro para desbravar. 

 

Eu também fiz aniversário. E preciso confessar. Ando desencantada. Com os rumos do país. Com a intolerância.  Com a hipocrisia, num momento em que o país atravessa o momento mais sério de sua história política recente.

 

A Presidente Dilma foi afastada. Teoricamente a corrupção do país também, já que é atribuído unicamente ao PT toda a série de desmandos que levaram o país ao caos.

 

Mas quando leio que quase 60% dos deputados que aprovaram o impeachment são acusados de corrupção, bate um desânimo gigante. Eles não têm currículo, têm ficha corrida, vida pregressa. E isso é uma tristeza. Muitos são investigados pela própria Lava-Jato.

 

E nem vou falar dos primeiros na linha sucessória, que já mostraram poder, mas são tão sujos quanto pau de galinheiro. E me pergunto. O que um vice-presidente citado na Operação Lava-Jato e em delações premiadas, e cerca de 300 deputados com processos na justiça poderão fazer para melhorar o futuro do país que dizem querer livrar da corrupção? É hipocrisia ou não? 

 

Queria muito que os problemas do país realmente fossem provocados pela Dilma e pelo PT. Estaríamos virando a página e viveríamos novos tempos, de conquistas e avanços para o povo brasileiro.

 

Mas há desconforto, desconfiança dos dias que estão por vir. Se o povo é o senhor de sua própria história, resta ver como se comportará. 

 

Se voltará para as ruas, ou se considerará ter cumprido o dever com o afastamento da Dilma, mesmo diante de tantos denunciados por corrupção ocupando cargos no Senado Federal e no Executivo.

 

Como se comportará o STF? Serão os interesses do povo brasileiro defendidos com veemência, à luz da Constituição Federal? Com que celeridade? Confesso que são mais perguntas que respostas.

 

Torço por uma faxina geral. De verdade. Daquela que não deixa pedra sobre pedra. O Brasil e seu povo merecem isso. 

 

Mas preocupo-me quando ouço dizer que já existem aliados do agora Presidente Temer se mobilizando para colocar em votação projeto que proíbe falar mal de políticos na internet. A punição seria de até dois anos de cadeia aos internautas que ousarem falar mal desses "santos" homens.

 

José, para onde?


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