Cortesia com o chapéu alheio - Jornal Fato
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Cortesia com o chapéu alheio


Ouvi bastante a frase acima quando criança e fui vítima em minha própria casa. Explico: depois de cinquenta anos sem tocar acordeão, descubro o real motivo de ter abandonado o instrumento. Todas às vezes que chegava uma visita em nossa casa, minha mãe me colocava para tocar acordeão, numa época que não se contestavamaos pais. E eu detestava tocar para as visitas, que nem eram minhas! Quando casei abandonei o instrumento.E meu neto, hoje adulto, reclama que tinha que cumprimentar todos osamigos dos pais e ele morria de vergonha. Será que os direitos humanos não se aplicam as crianças?

 

Sempre que vejo uma linda menininha num concurso de beleza infantil me pergunto: vontade dela ou dos pais? Será que se ela pudesse optar seria sua escolha? A autoafirmação através de filhos ou netos é comum - quantas mães e avós carregam fotos para mostrarem o quanto são belos, inteligentes e muito mais! Imagino que poderíamos permitir que cada um promovesse a si próprio, se lhes interessar. Inclusive observo que os jovens evitam falar das suas realizações, aí aparecem pais ou avós contando as vitórias do seu rebento - o que muitas vezes os deixam constrangidos e envergonhados.

 

Se cada pessoa se sentisse realizada, não teria necessidade de expor o outro para mérito próprio. Conheço moças lindas que se sentem bem divulgando a imagem, jovens que publicam suas vitórias, mas que fique estabelecido que são livres para se promoverem se assim o desejarem. Contudo são raros, em geral são discretos e preferem não se expor. Fazer cortesia com chapéu alheio ou se promover através da imagem do outro pode ser constrangedor. Existem profissões que exigem que se exponha a pessoa ou o trabalho, é compreensível. Incompreensível é colocar crianças para declamar, dançar, tocar,contra a vontadedelas, unicamentepara o deleite e promoção dos adultos.Que tal respeitar a liberdade e individualidade dos pequenos? Atitude que com certeza transformará crianças em adultos bem mais felizes.

 


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