Como nasceu a feminista - Jornal Fato
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Como nasceu a feminista


Dei um mergulho no passado e tentei encontrar histórias que me impulsionaram a me transformar numa feminista e defensora incontestável das mulheres. Vivi minha infância e juventude em outro contexto. Sou filha de mulher medrosa, e que nunca se aventurou além dos limites caseiros. Na infância ouvi os maiores absurdos em relação as mulheres. Na família aprendi que mulher tinha que estar sempre por baixo, desde a relação sexual; que homem possuía um desejo incontrolável e que as mulheres tinham que estar sempre dispostas a atender aos seus desejos; que mulher casada que se arrumava estava à procura de homem; que moça direita não ficava namorando no portão - afinal o que os vizinhos iriam falar! Que mulher tinha que ser recatada, para não sofrer assédio e estupro. Resumindo, que nasci um ser inferior, incapaz e assexuado.

 

Casei pensando que ia escapulir de tanto atraso mental e encontro outra família de machistas. As pérolas não foram muito diferentes: mulher que sai à noite para estudar está atrás de homem; que dirige, idem; e calça comprida e biquíni não são vestimentas de mulher séria. Que eu não podia deixar minha filha nua, porque o genital da mulher era muito feio.

 

Como sobrevivi? Primeiro com estudo e trabalho. Segundo com muita coragem e determinação para ir impondo os meus pontos de vista, afinal desde minha adolescência eu tinha plena consciência de que tudo o que tentavam me impor era idiotice da pior espécie. Transformei-me numa contestadora e procurava ler todas as autoras que pregavam o feminismo. O livro "Mulher, objeto de cama e mesa", de Heloneida Studart foi o definitivo divisor de águas. E não venham me dizer que milito num campo ultrapassado - este o será quando as mulheres não forem mais assassinadas por serem consideradas objetos dos homens, quando não mais receberem salários diferentes por funções iguais, quando ocuparem os altos cargos administrativos e de gestão e quando os pais criarem seus filhos de ambos os sexos em igualdade de condições.

 

Sobrevivi no passado, no presente mantenho uma vida de luta e conquistas, confiante num futuro em que sejamos todos iguais.

 

 


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