A luta continua - Jornal Fato
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A luta continua


Testemunhei uma época em que era raro uma mulher sair de casa para trabalhar, elas só cuidavam de filhos e da casa. Numa época em que os homens eram provedores, eles ganhavam o mundo e as mulheres ficavam tomando conta das crias. Por conta dessa pouca diversificação de atividades, as mulheres não tinham muito assunto para conversar. Nos grupos femininos só de falava sobre filhos e empregadas. As mulheres ficavam nas cozinhas e os homens nas salas. Elas só se adentravam nos ambientes masculinos para servi-los.

 

Acompanhei todo o caminho de libertação das mulheres, que teve início com a pílula anticoncepcional, na década de sessenta. A partir daí elas começaram a buscar as universidades deixando de lado as tarefas rotineiras da casa, que até então representava o mais alto galardão feminino: costurar, bordar, tocar algum instrumento musical - desde que discretamente, cozinhar e manter filhos limpos e bem educados. E a respeito daquelas que decidiam vender algum produto do seu trabalho, os maridos ou pais faziam questão de informar que o faziam para comprar suas bijuterias, como se fosse vergonhoso para o homem ter uma mulher ajudando nas despesas domésticas.

 

E as mulheres foram evoluindo, partiram para o comércio, para as indústrias, elas começaram o buscar os seus espaços no mundo, a lutar por seus direitos em associações de classe, sindicatos, conferências, diretórios políticos, entre outros. As mulheres foram se transformando em seres bem interessantes, pois possuem uma capacidade instintiva de absorver mil coisas ao mesmo tempo e dar conta meritoriamente de todas. O homem continuou no seu espaço e como este já era garantido há séculos, não sentiu necessidade de buscar novos desafios, como aconteceu com a mulher.

 

Sou de uma época que as raras mulheres que se sobressaíam eram vistas com maus olhos, pois mulher não podia ter uma posição de maior destaque do que os homens. E estes não as queriam como esposas, porque não davam conta de sustentar o brilho que delas emanava. Hoje as mulheres são maioria em cursos antes preponderantemente masculinos e os cargos de direção das empresas estão sendo ocupados por elas, por meritocracia e não simplesmente por serem filhas ou esposas dos proprietários.  Elas possuem interesses diversificados e encontramos mulheres não só nas academias de ginástica e dança e nos salões de beleza, mas nas empresas, nas universidades, nos espaços culturais, políticos, esportivos, nos botequins, comandando aviões, construindo prédios, em trabalhos voluntários, entre muitos outros. Clubes de serviços internacionais - como Lions e Rotary, entenderam a situação das mulheres no mundo e hoje elas ocupam, nos referidos clubes, posições idênticas aos dos homens.

 

Mas não se pode garantir que a emancipação feminina atingiu seu ápice. Enquanto existirem mulheres vendendo seus corpos para sobreviver - e muitas delas, às vezes, ainda crianças - indicando que ainda são usadas pelos homens unicamente como objeto de prazer; enquanto as mulheres usam burca no Oriente; enquanto mulheres sofrem assédios e estupros; enquanto muitas delas não possuem o direito de gerir o próprio corpo; enquanto o acesso as mulheres for vetado nas mesquitas e enquanto as igrejas tradicionais e a maçonaria impeçam que mulheres ocupem seus espaços, em igualdade de condições  e enquanto elas receberem salários menores por tarefas idênticas as dos homens- ainda há muito caminho a ser trilhado.  

 


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