A empatia e a ponte - Jornal Fato
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A empatia e a ponte


Caso recente de uma tentativa de suicídio na Terceira Ponte, em Vitória, revela a falta de empatia e amor, que parece não incomodar à maioria da população. Passamos de algozes a juízes sem nenhuma cerimônia.

 

Enquanto policiais e bombeiros tentavam salvar uma vida (que vale mais que o mundo inteiro, segundo a Bíblia), os motoristas se irritavam com a inevitável e longa fila, e outros desejavam que o infeliz pulasse logo.

 

Ou que fosse assassinado por aqueles que foram ali para o resgate, com vida, de uma pessoa desesperada. "Tem mais é que matar esse bandido", disse um senhor de setenta e poucos anos, camisa do Convento da Penha e medalhinha no pescoço. O detalhe chamou a atenção do jornalista Aglisson Lopes, que escreveu o artigo "Sabe a empatia? Pulou da ponte hoje".

 

Isso me fez lembrar do quanto as igrejas estão cheias de hipócritas e fariseus, que batem no peito e se sentem superiores aos outros, mas fazem coro de que é preciso realmente matar o bandido. Amor zero.

 

Infelizmente existem pessoas aos montes por aí de olhar escorregadio que revelam a personalidade pouco confiável de criaturas esquisitas. Confirmam o ditado de que os olhos são o espelho da alma.

 

Vestem-se até de maneira elegante, falam suavemente, quase sussurrando, mas as palavras maldosas as tornam pessoas indesejáveis e malquistas, inclusive no ciclo familiar mais próximo. Não há embalagem de luxo que dê jeito.

 

Se partiu delas, as expectativas são as piores. Isso já é consenso entre os que as conhecem.  São daquelas que ferem e fazem mal num piscar de olhos, sem pudores nem peso na consciência, apesar da capa de cristãs que vestem, hipocritamente, todos os dias.

 

Mas já não enganam a mais ninguém. A pergunta é o que teria tornado pessoas até "bem nascidas", que têm tudo para serem felizes, em seres tão nefastos. Que fazem esforços imensos para matar e destruir o que não é seu. Em seres humanos impiedosos e cruéis, que se deleitam na maldade.

 

Talvez essa curiosidade fique sem resposta, mas algumas características nítidas podem ser a ponta do iceberg. Talvez os estudiosos do comportamento humano possam explicar. São pessoa infelizes. Mal amadas. Têm complexo de inferioridade, o que as torna pessoas invejosas. Daquelas, como diria minha avó, cujos olhares são capazes de secar pimenteiras. Com o livre arbítrio, escolherem o caminho das trevas. Fedem a enxofre, como diria um amigo de infância. 

 

Apesar de toda a impaciência e intolerância dos muitos motoristas, os policiais e bombeiros conseguiram cumprir a missão e tirar o homem da ponte com vida. A esperança é que ele encontre apoio para seguir em frente, e que o motivo que o levou a ato tão desesperado seja resolvido da melhor maneira.

 

É o que desejaria à pessoa mais querida. É o que desejo a esse homem, que não conheço e nem sequer sei o nome. É o que sinceramente desejo a tantas outras pessoas que chegam ao limite. Que não sabem mais o que fazer para continuar vivendo diante de situações críticas.

 

Sabem aquelas pessoas de olhar escorregadio? Diriam que isso não é problema delas. Apoiariam o senhor da medalhinha. Pensando bem, palavras não as satisfariam. Sairiam do carro friamente, se aproximariam, distrairiam policiais e bombeiros e dariam um empurrão no infeliz ponte abaixo. O mundo (e as igrejas) está cheio de pessoas assim. Que Deus nos proteja.

 


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