A Arte de Desesperar de Novo - Jornal Fato
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A Arte de Desesperar de Novo


Tenho tentado manter um bom comportamento depois de tudo isso. Mas sua existência no mundo custa a me parecer indiferente. Ontem mesmo encontrei sua mãe no shopping e disse umas verdades para ela. Se eu sei que você não presta, acho que ela também deveria saber. Falei da sua crueldade comigo, dos danos materiais, físicos e morais que me causou. Disse o quanto você foi injusto. Ela parecia assustada demais para quem só estava ouvindo alguns fatos consumados, mas quando vi que o sangue lhe fugiu das faces e olhei para trás foi que me dei conta que o negócio era mais sério. A vaca da sua namorada atual não me reconheceu - logo ela, que um dia foi minha melhor amiga. Veio se aproximando até não ter mais como fugir de mim. Enfim a chance que eu tanto esperei. Enfim ela passaria algum constrangimento. Sonhei pelo momento de punir essa égua por tudo que me fez.

 

Ela parou quando me viu, e até tentou uma estratégia de retorno. Gritei para que ela ficasse paradinha, e acho que ela obedeceu mais por minha autoridade do que por lucidez. Comecei puxando os cabelos e rasgando aquela roupinha cafona, que é bem o estilo dela. Sua mãe chamou pelo segurança, e fiquei horrorizada com isso. Até outro dia a mamãezinha chata estava do meu lado. Gastei tardes inteiras preparando o bolo de laranja que ela adorava. Gastei dinheiro comprando flores e aqueles sapatos ortopédicos ridículos e caros a cada data comemorativa. Em retribuição ela me chamava de louca tão alto que em segundos estávamos as três: eu, a brega e a ex sogra ogra cercadas por uma multidão que dividia-se entre aplaudir, filmar, fotografar e realizar apostas. Nas apostas eu era a preferida. Chupa essa! Enquanto você preferiu esse copinho de água suja, a multidão do shopping apostava em mim: taça de cristal de vinho caro.

 

Fomos expulsas antes da minha vitória final, mas deixei meu recado. Ela, que já é bem feia, ficou bem pior com alguns fios de cabelo a menos e aquele vestidinho chinfrim de segunda categoria rasgado. Sua mãe querida jurava que a pressão estava nas alturas, mas duvido. Já estou acostumada com esse joguinho sujo da cobrinha que te criou.

 

Voltei para casa em paz. Sem nenhum arranhão, com a autoestima um pouco melhorada. Depois que me deixou foi a primeira vez que dormi sorrindo e sóbria ao mesmo tempo.  


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