Conheça o bairro Dr. Gilson Carone - Jornal Fato
Cachoeiro

Conheça o bairro Dr. Gilson Carone

Comunidade nasceu para abrigar pessoas em vulnerabilidade social que antes viviam em área de risco e hoje é um dos que mais crescem em Cachoeiro


- Foto: Ronaldo Santos

Batizado em homenagem ao médico que de 1978 a 1983 foi prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, o bairro Dr. Gilson Carone iniciou sua formação em 1994, - um ano antes da morte do homenageado-, a partir da doação, pelo Poder Público, de lotes para população de baixa renda para fins de construção de casas populares para as pessoas que se encontravam em situação de vulnerabilidade social.

A iniciativa foi justificada, vislumbrando a retirada da população de locais de alto risco e de baixa qualidade de vida. Nessa ocasião, foram construídas 125 unidades de casas no formato de mutirão, pelos agraciados pelo recebimento dos lotes.

Desde então, observou-se a comercialização de lotes para público diverso daquele para o qual inicialmente foi formado o referido bairro, o que redundou num crescimento rápido e desordenado do território, com muitas ocupações irregulares, inclusive do córrego lá existente.

O bairro sofre com razoável índice de violência, o que fez com que os seus moradores não desejassem que o Poder Público disponibilize praça pública naquela região, por considerarem que o referido equipamento poderia contribuir negativamente à elevação dos índices de insegurança.
Hoje, no entanto, a construção de uma praça é um dos pedidos do atual presidente da associação de moradores, Valdomiro de Almeida, o Mirim. Segundo ele, existe área para isso.

Acerca disso, a Secretaria de Esportes informou que realizou mapeamento no bairro e identificou terreno próximo à unidade de saúde para abrigar o espaço de lazer da comunidade. A fase, agora, é de elaboração de projeto para posteriormente captar recursos para a obra.

 

Carências

A ocupação do bairro não foi planejada, portanto, as ruas carecem de melhor tratamento, como drenagem, pavimentação, sinalização viária, iluminação de qualidade, para contribuir com a segurança pública, esta última a maior urgência.

Há carência de arborização, exigindo plano de conscientização e de plantio de árvores nas vias públicas, além de se qualificar os pontos de parada de ônibus, com abrigos onde couber e/ou com placa de sinalização adequada, iniciativas que deverão advir do Poder Público Municipal.

Economicamente, o bairro é considerado como de classe C e D, demandando da Municipalidade que possa implementar ações relativas às necessidades desse público-alvo. Não à toa, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, há 1647 famílias inseridas no Cadastro Único, do Governo Federal, das quais 616, beneficiárias do Bolsa Família (agora, Auxílio Brasil).

Serviços como metalurgia, oficina mecânica, padaria, costura industrial, mercearia entre outros, atendem aos moradores e população adjacente. Os de maior porte, geram emprego e renda para população de outras regiões.

 

Estrutura

A comerciante Bernadete Traváglia, há 20 anos no bairro, se preocupa com a estrutura. "Vamos pedir ao poder público que olhe com mais carinho para as nossas ruas, que estão com muitos buracos, isso prejudica muito o acesso das pessoas, que podem cair e se machucar".

De acordo com o secretário municipal de Obras, Rodrigo Bolleli, 25 ruas do Gilson Carone foram pavimentadas e ganharam também estrutura de drenagem, escadaria e muro de arrimo, quando preciso. Segundo ele, outras quatro vias ainda necessitam do mesmo cuidado, o que deve ocorrer no início de 2022.

As ações de tapa-buracos e manutenção das vias, explica, são feitas de forma prioritária pela Prefeitura, mas a chuva - que abre os buracos e impede que sejam tapados - tem prejudicado a agilidade dos serviços.

De acordo com ele, toda solicitação da comunidade, como pedido de instalação de quebra-molas, é bem aceita pela gestão. Ele, no entanto, reforça que devem ser feitas por canais oficiais, tais como o 156 ou por intermédio da ouvidoria. Depois disso, a demanda é tecnicamente avaliada e atendida quando possível.

 

Saúde

Para o presidente da associação de moradores do bairro, Valdomiro de Almeida, o Mirim, a estrutura física da unidade de saúde local não é problema, mas a falta de médico, que ocorre ocasionalmente. "Médico, tem, mas precisa de mais atendimento, pois temos lá o Otílio Roncetti, que trouxe mais pessoas. Cresceu muito o Gilson Carone, então, precisamos de mais médicos no posto", acredita.

Mas, de acordo com o secretário municipal de Saúde, Alex Wingler, o bairro hoje conta com dois médicos, ambos dentro da Estratégia de Saúde da Família, pela qual cada profissional atende uma área de 4 mil habitantes, quatro dias por semana, sendo o quinto para capacitação.

"Às vezes acontece de o morador chegar justamente no dia da capacitação. E muitas vezes não entendem que a enfermeira é a profissional responsável para fazer o atendimento quando o médico não está, fazer o agendamento e entender qual o problema das pessoas. Unidade de saúde não é posto de pronto atendimento. Às vezes vai chegar naquele dia e ser agendada. Se acha que está com uma urgência e emergência, infarto, AVC, dor muito forte, febre muito alta, procure nossos pronto-atendimentos, que é o local correto para ter o atendimento de imediato".

 

Estrutura disponível a moradores

De acordo com a estimativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Semurb), o bairro Dr. Gilson Carone tem 4.821 habitantes. Muitos deles chegaram recentemente, com a inauguração do residencial Otílio Roncetti - dentro do programa Minha Casa, Minha Vida.

No bairro há 1.056 inscrições imobiliárias, entre residências, comércio e indústrias, distribuídos em 83 ruas, que se estendem por mais de 9 km, conectando uma área total de 529.989 m² em extensão territorial.

A comunidade é atendida com coleta de lixo três vezes por semana, além de outras estruturas básicas, como transporte público coletivo, rede de água e esgoto e iluminação pública. O bairro dispõe de dispõe de uma quadra poliesportiva e uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e duas escolas municipais de ensino básico.

A escola "Drª Rita de Cássia Vieira Vereza" atende 200 alunos, e tem turmas de Maternal I a Pré-escola da educação infantil. Quando encerram esse ciclo, as crianças podem continuar a estudar no bairro, já que o educandário "Pe. Gino Zatelli", atualmente com 469 alunos matriculados, atende às turmas da pré-escola da educação infantil e 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

 

Um bairro dentro do bairro

Criado a partir da doação de lotes para pessoas em situação de vulnerabilidade, em 1994, o Gilson Carone viu a história se repetir em 2018. Dessa vez, com a inauguração do residencial Otílio Roncetti, plano habitacional que levou milhares pessoas para dentro do bairro, de uma só vez, mas manteve a característica de população majoritariamente de classes C e D.

Tal migração causou impacto nos serviços públicos, como escolas, posto de saúde, e demandas por segurança, reclamação comum ao bairro inteiro, mas que nos últimos tempos tem se evidenciado com episódios de violência nesse verdadeiro "bairro dentro do bairro".

Entretanto, os bons exemplos no Otílio são maioria, embora não tenham tanto destaque. A reportagem esteve no bloco marrom do residencial. E foi possível constatar que medidas simples e eficazes foram adotadas, por iniciativa dos próprios moradores, para melhorar o dia a dia.

O síndico Alécio Abreu classifica a população local como "pessoas de bem, sempre dispostas a ajudar umas às outras". E o fruto dessa sinergia é um lugar organizado e bem cuidado. "É um trabalho que fazemos há dois anos e meio", explica.

O bloco marrom conta com estrutura de portaria e monitoramento 24 horas. "É um lugar bom de trabalhar. São pessoas incríveis que moram aí. Já tem um ano que trabalho aqui e nada a reclamar do lugar", diz Milena Souza, uma das porteiras.

No local também fica o ponto final dos ônibus que atendem o condomínio. Quando a reportagem esteve no conjunto habitacional, Alécio pedia o aumento das linhas, sobretudo em horários de pico, quando os coletivos sobem lotados.

Mas, segundo a Prefeitura, desde 3 de novembro, foram implantadas quatro novas viagens atendendo ao residencial. Às 16h45 e 17h45 saindo do Centro, via Valão. E às 17h05 e 18h05, saindo do Otilio Roncetti, via KM 90.

"Aqui é muito bom. Pode vir tranquilo. Tem a segurança. A portaria. As câmeras. Tudo organizado, nada a reclamar", diz a moradora Angélica Barbosa.

 

Comentários