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Precisamos falar mais sobre isso

A violência contra mulher muito presente em nossa sociedade


- Foto Reprodução Web

Enquanto eu divagava sobre a situação de agora, lembrei do dia em que um senhor valente agrediu uma colega de trabalho com uma cadeira e que quando o marido dela chegou para tirar satisfação esse mesmo senhor, tão valente diante de uma mulher, se escondeu chorando, ajoelhado embaixo de uma mesa, e permaneceu por ali até muito tempo depois do apagar das luzes, quando todos já tinham ido embora e ele, paralisado pelo medo e pela covardia, foi incapaz de se levantar até para ir ao banheiro. É mais ou menos esse o comportamento do assediador. Não fale de polícia, justiça, denúncia ou de um homem mais forte do que ele, porque assim a valentia e a pompa vão embora, restando o trapo real que ele no fundo é.

Nesse universo onde temos acesso a uma gama maior de informações e onde existem leis que funcionam a nosso favor, abaixar a cabeça não pode, jamais, ser uma opção. Estava um dia desses conversando com um colega de trabalho e contando o quanto a militância pode ser cansativa, ainda mais quando morremos na areia. Ele me deu uma única resposta: missão. Talvez seja isso. Uma missão que o universo me deu, ou que eu, em determinado momento, tomei para mim. A verdade é que ignorar o que fere e causa danos é muito difícil. Perdi essa aula. E não há argumento lógico ou espiritual que me convença a ser ou a querer ser diferente.

O perfil dos sujeitos é quase sempre muito parecido. O de achar-se poderoso, inviolável, favorecido, protegido seja lá pelo que for. O abusador vai no ponto fraco, alcança o âmago do que faz a mulher se sentir humilhada. Se lambuza diante do silêncio, da fraqueza e da impunidade, principalmente. Mas uma hora alguém grita. Sempre haverá um grito, uma voz que vai ao menos tentar fazer parar. E essa voz pode ser de qualquer uma. De qualquer um. Porque quem não age, embora tenha conhecimento, é conivente. Quem se esforça para proteger o coleguinha abusivo, machista, misógino e sexista, está no mesmo patamar. No patamar dos que merecem desprezo.

As vozes que ainda imploram e se levantam para impor respeito estão realmente cansadas, porque o óbvio era para ser realizado no silêncio, sem aplauso ou condecoração. É só o óbvio, afinal. Mas a gente ainda precisa cantar forte e cantar alto, esperando que a vida vai melhorar. O importante é que não nos esqueçamos nunca: ser assediador não é traço de personalidade, criação ou estilo de vida. E não é só sinal de ignorância e má educação. É crime. E precisamos falar mais sobre isso.

 


Paula Garruth Colunista

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