Olhos nos olhos - Jornal Fato
Artigos

Olhos nos olhos

Vez por outra cometo gafes que preferia evitar, mas nunca de caso pensado


Vez por outra cometo gafes que preferia evitar, mas nunca de caso pensado. Algumas relativamente inocentes e outras mais traumáticas, que deveriam ser jogadas para sempre na vala do esquecimento, o que nem sempre é possível. Mas quem nunca que atire a primeira pedra.

E uma delas, que não faz mal à ninguém, além de externar indelicadeza, do meu ponto de vista, é usar óculos escuros em ambientes em que deveria tirá-los. Aconteceu recentemente e a culpa é do grau que coloquei nas lentes escuras que o deixaram tão confortáveis que nem percebi o uso em local inapropriado, quando havia muito a comunicar. Perdi uma oportunidade ímpar de conhecer e ser conhecida através da janela transparente e verdadeira chamada olhos, que nem precisam ser azuis ou verdes (meu sonho de consumo, confesso) para dizer muitas e belas coisas.

E isso não é pelas convenções, padrões ou pelo local, mas pelas pessoas, com quem gosto de conversar olhando nos olhos. Considero essa troca de olhares fundamental para uma interação completa e perfeita. Quero ver o que é dito além das palavras e o "espelho da alma", como dizem por aí, é perfeito para isso. Então, conversa sem troca de olhares não é eficaz nem produtiva.

Isso tudo porque implico com pessoas escorregadias, de olhar fugidio e de aperto frouxo de mão. Sou bem reticente em relação a elas. Então revelo-me através do olhar, e faço grandes descobertas a partir da observação, o que aprendi a fazer muito bem nesses mais de 35 anos de profissão. As melhores matérias que todo jornalista que sabe o que faz produz são as que as entrelinhas são lidas e percebemos o que se pretende esconder, que jamais serão ditas.

E nesses novos tempos, em que saímos das máscaras conotativas às denotativas, mas do que nunca é preciso comunicar e sorrir com os olhos. É preciso ler almas e corações com um simples olhar, que deve durar o tempo exato de transmitir mensagens de paz, amor e aconchego.

Como diria o poeta, nossos olhos também precisam de alimento. Que essa troca seja tão intensa que saiamos todos fartos e alimentados de esperança e sonhos de que dias e olhares muito melhores virão.

 


Anete Lacerda Jornalista

Comentários