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Mais no Centro

O centro de Cachoeiro, por ser centro histórico já consolidado não tem muito o que fazer ou gastar com ele, basta apenas conservá-lo sem grandes aplicações de verbas.


- Ilustração: Zé Ricardo

O Centro da cidade é o cartão postal de qualquer cidade, vez que é por ele, centro, que passa a maioria dos cidadãos, sejam visitantes, sejam moradores - senão não seria centro da cidade.

Olhando dessa forma, entende-se que toda a vez que o centro da cidade fica abandonado e feio, significa que algo está errado. E quem cuida e deve cuidar do centro de qualquer cidade são os seus administradores municipais.

Pessoalmente, acho que o centro de Cachoeiro de Itapemirim, por ser centro histórico já consolidado não tem muito o que fazer ou gastar com ele, a não ser que, sei lá o quê. Basta apenas conservá-lo sem grandes aplicações de verbas, exceto em situações excepcionais e na preservação dos imóveis.

Claro, deve se dar uma revisada geral no espaço que vai da Casa dos Braga à subida da Igreja da Consolação, espaço preponderante da conservação, mais que obrigatória. Pode-se até alguém dizer que é necessário alargar ou diminuir esse espaço da cidade a que me refiro, mas seriam meras especulações. O essencial é fixar-se limites onde se deve investir mais para devolver à cidade o brilho que ela tinha no passado, de forma a que ela volte a brilhar no futuro. Atualmente, anda meio apagado o nosso centro.

Ficando apenas num trecho da cidade, e sem descartar os demais a que me referi, a Praça Jerônimo Monteiro é um desastre e eu nem estou me referindo àquilo que fizeram recentemente com ela - e que não está ainda inteiramente feito, segundo soube.

O chão da calçada da praça está devidamente calçado com o quase centenário produto da Fábrica de Ladrilhos Grafanassi, mas ao mesmo tempo em que está devidamente calçado, está absurdamente descuidado, com centenas de ladrilhos quebrados e quebrados não por má construção da empresa, mas sim pelos frequentes furos para a colocação das indecentes e caríssimas tendas particulares, mas pagas com o dinheiro público.

No dia em que saírem as tendas, ou elas forem corretamente instaladas, o centro da cidade será outro. E nós, cidadãos, transitaremos felizes por ele, belo como há de retornar.

Outro ponto absurdo que macula a praça é o roubo frequente dos bustos dos ilustres cidadãos cachoeirenses, merecedores, sim da homenagem, mas não do ridículos a que são submetidos. E disso não se tem mais notícias.

Da mesma forma, os defensores da democracia nos campos da Itália, Segunda Guerra Mundial, são desprezados, desumanizados e desrespeitados (e tantos "des" mais), pela permanente sujeira a que é exposto o monumento (OBELISCO) colocado na Praça Jerônimo Monteiro, em 1945, pelo Prefeito Ary Siqueira Viana.

Apenas concluindo e falando de outra coisa que vai dar na mesma coisa: - Tão culpado como aquele cidadão que não faz ou que deixa estragar a coisa pública... tão culpado quanto eles (ou mais?) é o cidadão que se cala. (O maior culpado da cidade que cai é o cidadão calado e o seu silêncio).

 

 

 

Carlos Lacerda Estava Certo

(O texto abaixo foi retirado das págs. 276/7 do livro "LACERDA NA GUANABARA" (autor Maurício Dominguez Peres, Odisseia Editorial). O livro merece ser lido integral e especialmente pelos jovens sinceramente interessados em política, para, inclusive, saberem que honestidade e desonestidade grassam à esquerda e à direita. Honestidade e desonestidade dependem do caráter pessoal do político e não da sua escolha à esquerda ou à direita. Opção política é meio. Corrupção (ou não) é fim).

A raiz da política de clientela está, também, na insuficiência do serviço público básico...

Alguns episódios ainda hoje são recordados. Lacerda exigiu eu a própria mãe se demitisse, antes de sua posse, do emprego que tinha na antiga prefeitura e proibiu que um primo da fama duvidosa frequentasse o Palácio Guanabara... Negou o pedido de emprego em uma escola do estado para sua ex-professora, bem como para um amigo de Roberto de Abreu Sodré, que era líder da UDN paulista.

Um deputado foi procurá-lo no gabinete dizendo que tinha votado a favor da aprovação das contas do governo. Lacerda retrucou lembrando-lhe que se as contas estavam certas, não tinha feito nenhum favor, e que se estavam erradas, tinha atuado mal em aprová-las.

Apesar do golpe, o deputado não desanimou e fez três pedidos particulares.

- "Infelizmente não posso atender a nenhum de seus três pedidos, todos eles indignos", respondeu Lacerda. "Mas vou fazer pelo senhor algo mais importante. Vou esquecer que o senhor é capaz de fazer pedidos assim".

Eram atitudes que empregava com frequência, que serviram para transmitir o recado com maior impacto e que também alimentavam a mística desse governo. Não acreditamos, portanto, que esse estilo de governar fosse apenas uma questão tática. Era, principalmente, parte importante do seu capital político, o modo como concebia fazer política.

Dentro dessa política, estabeleceu a exigência de concurso para admissão de qualquer funcionário. Foram 268 concursos elaborados... comparados com os 48 concursos que houvera nos 10 anos anteriores. Segundo Raphael de Almeida Magalhães, não houve um único caso de alguém ter sido contratado por favoritismo. Chegou a estender essa pratica até para os... procuradores, cargos muitíssimo valorizados no jogo político e que eram até então preenchidos por nomeação do Prefeito.

 

E por que não dizer?

De vez em quando alguém me pede sugestões de leitura. Logo a mim, que nunca consegui reler reles livro, pelo menos com a desenvoltura com que releem as personalidades perguntadas no caderno literário do JB. Já viram? É um tal personagem dizer que "estou relendo as obras completas de Machado de Assis ... releio atualmente o Ulisses ... releio pela vigésima vez os Lusíadas, ... acabei de reler a Comédia Humana."

Eu, mortal, mal consegui chegar às últimas linhas de uns poucos livros, apesar disso, ainda me questionam, pedem-me para indicar livros. E pior, pedem-me indique livros para quem quer melhorar a escrita. Pior ainda - indico!! Indicando, não deixo de recomendar que leiam e escrevam sempre como hábito. Que leiam Machado de Assis ("fundamental para quem quer escrever bem.") e Rubem Braga ("um dos maiores escritores brasileiros, que tornou a crônica diária singela, límpida, uma forma maior de arte literária.") (Novo parênteses para informar que os parênteses anteriores são do jornalista Cláudio Abramo.)

Para Mauro Santayana, um dos grandes jornalistas contemporâneos, na sua geração "o homem que melhor escreveu no Brasil se chamava Rubem Braga. Ninguém foi capaz de trabalhar a língua com aquela doçura, ternura, inteligência, alegria e até amargura, às vezes! A frase em Rubem é um negócio fascinante porque ora é anjo, ora é demônio, ora é triste, ora alegre. Quem escreve como Rubem hoje? Ninguém."

De coisas que não entendo, perguntam-me, insistem até. Deviam é me perguntar sobre coisas que sei bem, como ... dar nome a filhos. Digo assim, porque vim voluntariamente pela contramão. Disseram que não se deve dar a filho nome de personagem pública viva. O personagem vira a casaca - ou mesmo não ser o que se pensava fosse - e lá vai o pobre filho carregando vida a fora o mau nome.

Remando contra a maré, acertei. Thiago de Mello é vivo ainda, um dos maiores poetas brasileiros, e o nome de meu filho mais novo é Thiago. (Num dos livros de Thiago de Mello está a dedicatória: "Para Thiago meu companheiro de nome, de vida, e de esperança.") Grande autor, maior democrata ainda, Érico Veríssimo era vivo quando me nasceu Clarissa, nome de um de seus romances de grande leitura. Assim com era vivo Dom Helder Câmara, quando o Helder nasceu, em 1975, na ditadura. Helder que o amigo "Veinho" chamava de Dom Helder.

Nenhum de meus heróis (digamos assim, pois não há motivo, senão admiração heroica, para nomear filhos), nenhum deles sucumbiu ou mudou de lado.

E por que não dizer? Não é que eu também soube ter bem feitos os filhos!?

("Eu canto porque o instante existe/ e a minha vida está completa,/ não sou alegre nem sou triste:/ sou poeta." Cecília Meirelles). (Crônica que escrevi em novembro de 1999 - nada a alterar).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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