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Istambul

Única cidade do mundo situada entre dois continentes (Europeu e Asiático), uma cidade, até então, de tolerâncias religiosas (Cristã, Judia e Muçulmana).


- Foto: Reprodução/Web

Alguns anos atrás visitei a Turquia e escrevi: inicialmente Bizâncio, capital dos Romanos no oriente. Com o cristianismo e o Imperador Constantino torna-se Constantinopla até 1453. Neste ano, inicia-se a era Otomana e seu nome definitivo: Istambul. Atualmente, capital cultural da Turquia e cidade Museu da Humanidade - assim como Roma, Londres e Paris. Única cidade do mundo situada entre dois continentes (Europeu e Asiático), uma cidade, até então, de tolerâncias religiosas (Cristã, Judia e Muçulmana).  O Museu Santa Sofia mostra o encontro da Igreja e Mesquita. Em 1923, o sultonato Otomano desaparece e nasce a república Turca, um país parlamentarista e laico. Apesar de quase todo povo, setenta milhões de pessoas, serem mulçumanos (islâmico), e maior parte dos cristãos ortodoxos, aparentavam uma convivência pacífica, apesar de todo conflito étnico da região nos primeiros anos do séc. XX. A capital administrativa e política é Ankara, uma região da Anatólia Central. A criação da república e a transferência da capital turca se devem as ações de Mustafa Kemal Ataturk, falecido em 1938 e venerado por homens e mulheres turcas. A Turquia localiza-se em região estratégica do mundo. Marcas de sua ocupação pelos humanos datam da pré-história, de períodos longínquos, antes do Neolítico (10.000 anos A.C.) Berço de civilizações mais recentes, rota de comércios (idas e vindas de oriente para ocidente), local de ocupações de grandes Impérios (persa, grego, romano, bizantino e otomano), marcas da presença dos primeiros cristãos encontra-se na Anatólia - em moradias vulcânicas na Capadócia, moradia e local da morte da virgem Maria e caminhos da evangelização de Paulo. Na Capadócia a natureza e suas erosões em território vulcânico são observadas em passeios de balões onde se pode observar uma região comovente. Em Pamukalle, uma bela estação termal, confirma a supremacia da civilização romana. Na parte moderna de Istambul conviviam mulheres que escondiam face e restante do corpo com lenços e burcas com mulheres liberais mulçumanas. Pelas ruas ouvimos cinco vezes ao dia os lamentos do alto das mesquitas convidando os fiéis para as orações. Algo, místico e diferente, próprio de sua cultura milenar.

A República Turca surpreendia. Surpreendia pelos direitos das mulheres em um país mulçumano. Na ocasião de minha visita já víamos riscos de retrocessos políticos em cada ponto de Istambul, de conflitos em suas fronteiras com Iran, Iraque e Síria, falta de moradia para grande parte da população, bem como deficiente serviço público em saúde. Com a pandemia do Covid-19, intolerância crescente no mundo, a Turquia e o restante do mundo, Brasil incluído, enviam sinais que a democracia e tolerância diminuem dia a dia. A Turquia me encantou com sua cultura e povo, tem uma disposição milenar para negociações, um pôr de sol deslumbrante no Mar Egeu que nos parece um caminho irreversível para a evolução humana e social. O vermelho e a lua em quarto crescente com a estrela solitária de sua bandeira é a esperança para esses dias difíceis que o povo turco vive.


Sergio Damião Médico e cronista

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