Incoerências - Jornal Fato
Artigos

Incoerências

Para o mundo, o ano de 2020 começou com clima tenso


Para o mundo, o ano de 2020 começou com clima tenso.

Qassem Soleimani, o principal general iraniano, morreu na manhã de 3 de janeiro (2 de janeiro, no Brasil) após um ataque aéreo promovido por forças americanas no Iraque. Em desforra, o Irã lançou mísseis em bases americanas abrigadas no Iraque e atingiu um avião ucraniano, matando dezenas de pessoas.

A morte de um, por intenção ou descuido, justificando a de muitos. A lei de talião em alta (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente...) em um mundo que se diz civilizado. E, neste caso, não importa a desproporcionalidade entre os atos ou a culpabilidade da(s) vítima(s).

Sob olhar mundial, 2020 começou com o desejo de vingança superando o de paz. Rumores de uma nova guerra mundial, o que assusta desde o homem mais louco ao mais sensato e pacífico. Afinal, a Segunda Guerra, que não tinha o poder bélico dos dias atuais, já foi suficiente para revelar a capacidade humana de autodestruição.

O fato é que os últimos acontecimentos mundiais despertam em mim, com ainda mais vigor, a certeza de que amo ser cristã, de que os ensinamentos deixados por Jesus seguem, de fato, na contramão do que se vê nas atitudes de Sua criação. Salta aos olhos que a criatura confronta o Criador e tenta, em vão, assumir Seu lugar.

Por graça que, pela fé, sobressai a firme certeza de que, através da morte de um único justo (Jesus Cristo), os pecados de muitos, inclusive daqueles que direta ou indiretamente foram seus homicidas, foram justificados.

Contraditoriamente, em Cristo, a morte de Um gera a salvação a todos os que a aceitam receber, logo, gera vida. Contudo, em Soleiman, que não é deus, a morte de um homem tem gerado mortes e temor global.

Lamento que, para muitos, de nada tenha valido o sacrifício de Jesus. Lamento que vidas ainda sejam ceifadas de modo brusco, ignorante e injustificável. Lamento que ainda existem pessoas movidas pela irracionalidade, pelo dinheiro e pelo ódio. Lamento muitas coisas.

Apesar de lamentar, sou grata porque, ainda em 2020, há a esperança de dias melhores. Isso porque, enquanto o Espírito Santo de Deus estiver presente no mundo, sempre existirá a chance da fúria dar lugar ao perdão; do ódio transforma-se em amor e de ser gerado, da ganância, o desejo de partilha.

Sigo 2020 nessa certeza, mas, consciente de que, se todos não priorizarmos a paz, esta não haverá de prevalecer. Isso porque, apesar do sacrifício de Jesus Cristo, a despeito de todas as teorias e crenças pacificadoras que emanam das tradições e dos costumes, não obstante qualquer sistema legislativo, sempre o livre arbítrio irá sobressair. Com ele, infelizmente, não raro, alguns seres humanos desprendem-se do que lhes distinguem dos animais, qual seja: da própria humanidade.

Todavia, fico firme na escolha da incoerência havida na fé em Cristo Jesus:

1 Coríntios 1, 27, Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte.

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins

 

 

 

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

Comentários