Eu sou o mestre - Jornal Fato
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Eu sou o mestre

Retomando o mote da prosa, a verdade é que sou, sim, dublador...


- Foto: Divulgação

Uma pessoa me disse, nesta semana, que tenho voz de dublador de filme da Sessão da Tarde, desses de aventura, mais antigos, da década de oitenta. Quem me conhece, está ciente de que recebi tal comentário como elogio. Só não sei se é motivo para crônica. 

Até porque, ao menos para mim, bisbilhotar e relatar a ociosidade alheia é mais relevante do que fazer desta esquina de página um picadeiro sobre o qual este pré-candidato a palhaço da vaidade poderia - embora não devesse - performar a tragicomédia de sua própria biografia.

Bem, retomando o mote da prosa, a verdade é que sou, sim, dublador. Mas, por gentileza, não contem a ninguém.

Inclusive, fui eu que, na versão carioquesa Herbert Richers ("diluída nas águas do Itapemirim"), dei voz a Bruce Leroy, protagonista do clássico vespertino "O último dragão", na cena em que ele responde ao arquirrival Sho'nuff, pouco antes de derrotá-lo: "Eu sou o mestre".

Para dublá-lo, entretanto, precisei me redescobrir mestre, "como se fora brincadeira de roda, na canção da vida".

 

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Nunca me pretendi versado em nenhuma área do conhecimento. A simples, porém complexa, existência dos especialistas isenta-me de qualquer responsabilidade nesse âmbito. Fato é (além de nome de jornal) que não passo de um colunista com licença patética e lugar-comum de fala para assuntar coisas que, apesar de miseráveis, custam-me os olhos da cara.

Felizmente.


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Restam ao trabalhador, a cada expediente vencido, o anoitecer, a casa para regressar (e seus respectivos passos, compridos ou breves), uma nanfonia de motores e, quando muito, um escasso pacote de pães. Ou de sonhos.

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Abril trouxe consigo a época das pipas. No bairro onde moro, que tem nome de santo e espírito de porco, moleques de todas as idades disputam um lugar ao céu. Já ao chão, linhas se emaranham, norteando meus caminhos.

 

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Deus, na hora de inventar o bom humor, decerto o fez com os mesmos temperos que adoçam os ventos que dão sabor - e sentido - ao outono. Pois, como já ousei afirmar, amor rima com humor.

 

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Em terra benzida

com gole deitado,

eu sigo minha sina

firme e calado,

em busca do que

me foi consentido

ao som do batuque

de tempos doídos.

 


Felipe Bezerra Jornalista

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