Alfabetizadora Zilma Coelho ganha biografia - Jornal Fato
Cultura

Alfabetizadora Zilma Coelho ganha biografia

O lançamento acontecerá na Casa dos Braga, na sexta-feira, a partir das 19h


O livro foi escrito pela escritora e professora Deane Monteiro - Fotos: Carol Luz

A escritora e professora Deane Monteiro Vieira Costa lançará em Cachoeiro de Itapemirim, na próxima sexta-feira (26), o livro biográfico da alfabetizadora Zilma Coelho Pinto. A obra teve o primeiro lançamento na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no dia 10 deste mês. O segundo acontecerá na Casa dos Braga, às 19h00.

Deane explica que decidiu falar sobre Zilma quando, em seu doutorado, estudava a primeira campanha de educação de adolescentes e adultos promovida pelo Ministério da Educação de 1947 até 1963, antes da Ditadura Militar.

"Quando eu fazia as investigações históricas, me deparei com algumas fontes que citavam Zilma Coelho e a relacionavam com o Estado do Espírito Santo. Então, fiz uma análise macro da campanha, uma visão abrangente da educação para adolescentes e adultos e, depois, fiquei quase três anos fazendo mapeamento sobre a história de vida dela", comenta a escritora.

Ela relata que se surpreendia, durante análises que fazia, com a mulher abnegada que a alfabetizadora era, quase santa, heroica, que lutou contra a pobreza, pelo combate ao analfabetismo.

O que chama a atenção da autora, contudo, é que Zilma em 1947 assume essa campanha de alfabetização no estado, cria uma campanha de alfabetização e assistência social em Cachoeiro de Itapemirim e apropria-se disso até os anos 80, com toda sua limitação enquanto mulher e na luta social pelo fim do analfabetismo.

"Houve momentos críticos entre ela e políticos, entre a família, está tudo narrado na biografia. Isso acontece porque se dedicou em tempo integral à causa da alfabetização, que, sempre pensou, era muito nobre".

Durante as pesquisas, Deane encontrou os últimos escritos de Zilma Coelho em monografia do pesquisador cachoeirense Sidney Gonçalves Netto Jordão. "São os últimos escritos em que ela narra os fatos das grandes vitórias que teve na campanha educacional e assistência social".

Nos registros, Zilma também fala de suas derrotas como pessoa e professora, em virtude do desencontro entre seus objetivos sociais de alfabetizar, políticos e sociedade local. Ela narra os preconceitos pelos quais passou por andar sempre com negros, pobres e pessoas do campo.

Por fim, para concluir a obra, a autora realizou estudo de quatro anos com levantamento histórico. "A biografia de Zilma produzida por mim não é uma biografia romantizada, mas relata a história de uma mulher que se dedicou muitos anos à causa da alfabetização em Cachoeiro. A proposta, todavia, é levantar primeiramente a memória da educação capixaba. Poucos são os estudos realizados que valorizam a história de vida de capixabas que lutaram por causas sociais".

Deane menciona que essa professora, que abriu mão de tanta coisa na vida para dedicar-se àqueles que mais precisavam, é pouco conhecida e que é necessário existir memória coletiva em torno dela, que fez muito pela educação no Espírito Santo. E finaliza dizendo que sofre influência com a trajetória de Zilma, pois é primeiramente historiadora e mulher.

"Tenho na minha história de vida relação enorme de ascensão social via escolarização. Eu também sou professora e atuo na rede pública federal e sempre tenho como discurso que a escolarização é um direito que empodera as pessoas diante de seus fracassos sociais", finaliza.

 

Sobre a autora

Deane Monteiro Vieira Costa é natural de Ceará e mudou-se para o Espírito Santo nos anos 80, aos três anos, junto de seus pais e seus três irmãos.

Segundo a autora, a família de classe popular veio para o estado em busca de uma vida melhor.

Os pais de Deane investiram não em dinheiro, mas em tempo de educação na vida dos filhos, e contribuíram, desta forma, para que ela se formasse em História na Ufes e fizesse mestrado e doutorado no campo da educação.

Deane é professora no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus de Vila Velha.

 

Família

A neta de Zilma Coelho, Luilma Pinto Mendonça, diz que a avó era bastante dinâmica, uma mulher à frente de seu tempo, que trabalhou de forma intensa na educação. "Ela foi pioneira e lançou o processo de alfabetização para adultos e trabalhou cursos de capacitação profissional e também higiene pessoal, porque naquela época essas questões eram precárias", diz.

Luilma conta que Zilma não media esforços e seguia atrás das pessoas para alfabetizá-las.

"Naqueles tempos, se locomover de um lugar para o outro era muito difícil, então ela ia de casa em casa para alfabetizar as famílias".

Além de dar educação à população, a professora conseguia atendimento médico e trabalho. "Ela dizia que não existe ninguém burro. Se a pessoa não está aprendendo, é porque existe um problema por trás disso. Então ela levava ao oftalmologista e outros médicos, por exemplo".

 

A Louca do Itapemirim

Luilma Pinto Mendonça comenta que Zilma era chamada de "A Louca do Itapemirim "porque ela sonhava com um país sem analfabetos e ela se entregou intensamente a essa causa. "Minha avó ia a lojas, comércio, e pedia de tudo para dar àqueles que precisavam de roupas, comida etc. Trabalhava com reciclagem e fazia caderno com papel de pão para quem não podia comprar".

Ela aproveitava tudo e se doava, esquecendo-se um pouco de si. "Ela tinha uma fama de mendiga também, porque pegava tudo na rua, andava muito humilde, mal penteava o cabelo", complementa.

Zilma teve três filhos, oito netos e 10 bisnetos.

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