Urbes - Jornal Fato
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A cidade tornou-se a moradia do homem contemporâneo. Ele "fugiu" do campo buscando as facilidades e os atrativos da modernidade. Os objetos do desejo. Desejamos ruas, avenidas, parques, metrôs... de várias cidades do mundo. Elas se transformam e seduzem; facilitam locomoções (caminhadas, trilhas, ciclovias...), opções (acima e abaixo da terra). Aquelas que não se transformam são abandonadas e esquecidas pelos mais jovens. As cidades desde o século XIX são motivos e inspirações para as crônicas (relatos curtos do seu dia a dia); relatos da sua complexidade e beleza; dos interesses humanos e de outros animais (seres vivos) - vários seres estão em extinção na natureza, menos as aves, pois se adaptaram às nossas realidades urbanas. Harmonizar pessoas e outros seres vivos com interesses econômicos e financeiros; preservar belezas naturais e, incorporar novos encantos em nossas vidas, no lugar onde moramos: é o grande desafio.

 

 Em Vila Velha, município capixaba Canela Verde, na Avenida Hugo Musso, paralela à praia de Itapoã, existe uma grande árvore de raízes e tronco imenso, tão larga que não poderia abraçá-la (semelhante à Samarina da Praça dos Macacos e a da final da Beira Rio, em Cachoeiro de Itapemirim). Ela com mais algumas outras (bem mais finas e modestas) transformam a Hugo Musso em um grande "passeio" (uma Avenida que lembra o "Passeo do Prado", o caminho para um dos mais belos museus do mundo, onde Diego Velásquez e El Greco descansam as pinturas da época do Esplendor Espanhol). Bem... Ao lado da grande árvore, na verdade, à sua frente, onde as raízes da Samarina vilavelhense correm, existe um terreno, em torno dele, muitos prédios, um terreno que tudo leva a crer: aguarda apenas alguns detalhes para que uma nova construção apareça e com ela a nossa árvore desaparecerá. Talvez, em troca de algumas outras (quem sabe vinte), ou mesmo cinquenta, em algum lugar que não saberei ou verei. Não vale a pena a troca, pois, a grande árvore que vejo, com suas raízes imensas e fortes, suas folhas diferentes, nunca poderá ser substituída em minha memória. No momento da construção suas raízes serão cortadas, pode não ser "arrancada", porém, morrerá lentamente. Agonizando como todos nós em busca da água. Desapareceremos em busca de água a cada raiz de uma árvore cortada. Ficaremos secos, como a grande árvore da Hugo Musso.

 

Em Cachoeiro, devemos nos alertar, ainda temos muitas árvores, fiquei admirado quando observei a Avenida que leva ao bairro Coronel Borges, passiei à beira do rio, segui em frente ao Liceu, nossa Escola, pelo caminho... Lado a lado, uma em frente à outra (tendo ao fundo o Itabira), uma enorme fileira de árvores. Parece pouco, mas é muito perante o desmatamento Brasil afora. Pena que o transporte público que leva as pessoas aos locais onde as árvores estão esteja tão confuso e deficiente.

 

Uma árvore é como um ancião que guarda o conhecimento oral. As suas perdas se assemelham. Parece que nada guardam, mas é como uma grande biblioteca (os conhecimentos e sabedorias existem). Sem muito falar, ou sem alarde, nos mostram os valores da vida. A humanidade devia ouvir, mesmo no silêncio, as coisas que mostram.

 

Sergio Damião Santana Moraes


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