Sobre o Aedes - Jornal Fato
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Sobre o Aedes


Fiquei triste ao conhecer a incidência, no sul capixaba, do mosquito Aedes aegypti e as doenças virais que ele transmite. Neste ano, somos a região do Espírito Santo onde ele mais se prolifera e a população mais adoece em consequência de suas picadas. Muito triste. Porém, nada animador para o restante do Estado ou do País. Pois, o mosquito se adaptou por todo o Brasil e nos países vizinhos. No Brasil, as cidades campeãs em sua incidência variam de verão para verão e conforme o descuido em meses anteriores - da população e governos. No momento, no sul capixaba, sofre a população de Rio Novo do Sul, Cachoeiro, Muqui...

 

Interessante que as declarações atuais de especialistas e inclusive do Governo - Ministro da Saúde: "Perdemos a guerra contra o mosquito." Aparentemente verdadeira para a realidade atual, destoa do sanitarista Osvaldo Cruz. Há cem anos, no Rio de Janeiro, contra o mesmo Aedes e o vírus da febre amarela, ele saiu vitorioso. Na ocasião, mesmo com todo atraso cultural da população e sem os conhecimentos modernos do valor da vacina, ainda assim, ele venceu. É verdade que, os tempos eram outros, a ocupação da cidade não era tão caótica. Ainda assim, a ação do governo na saúde pública e combate ao mosquito foram contundentes, e anos depois, na década de 50, o Brasil e os países vizinhos se viram livres do Aedes. Logo depois, o descaso progressivo do governo brasileiro e dos nossos vizinhos, o crescimento desordenado das cidades, a falta de cuidados com o destino e captação do lixo, falta de saneamento básico (água e esgoto), fez o mosquito retornar na década de 80, e agora, quase 40 anos depois, convivemos com uma situação de saúde pública calamitosa e vergonhosa. A OMS - Organização Mundial da Saúde (órgão da ONU) nos coloca e os países da América do Sul e Caribe em situação de emergência mundial em saúde, algo de alerta para o mundo. Uma declaração vergonhosa de atraso nos cuidados de prevenção da saúde na área pública. Uma declaração que a limpeza pública, no Brasil, não existe. Quase uma afirmação: as ruas, no Brasil, são locais de acúmulo de sujeira.

 

Com essa declaração da OMS, deveríamos nos envergonhar. E de tanta vergonha, esquecer governo, e tomarmos uma atitude. O brasileiro em higiene pessoal, preocupação com o corpo, estética, beleza física para exibição em desfile de Escola de Samba, nas praias e carnavais é modelo para o mundo. No destino do seu lixo é uma vergonha. Não se preocupa onde vai ser colocado seus resíduos, deste que não fique dentro da sua própria casa. Para aonde ele vai e se vai ser recolhido, não importa. Com isso, não cobra as ações de limpeza pública dos governos. O círculo vicioso acontece: não cobramos e os governos não realizam. Não valorizamos as obras abaixo da terra.

 

Dia desses, um carro parou ao lado da calçada do rio Itapemirim, o cidadão desceu e jogou dois sacos de lixo no leito do rio. Quando questionei, ele de maneira rude, perguntou: "O que você tem com isso?". Mais a frente deparei com o serviço policial. Informei sobre o carro e o ocorrido, os policiais informaram que eu deveria comparecer à delegacia e fazer um B.O. Bom, diante de tanta burocracia, resolvi aproveitar o domingo. Segui em frente na minha caminhada ao lado do rio Itapemirim. Um rio agredido, e não protegido, por todos nós.

 

Sergio Damião Santana Moraes


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