Perdas e ganhos - Jornal Fato
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Perdas e ganhos


Dia desses, numa conversa entre amigos, eu ouvi de um deles o comentário de que estamos chegando numa faixa de idade - na verdade a expressão utilizada foi que estamos numa certa idade - em que a vida começa a nos tomar mais do que a dar; começamos a perder mais do que ganhamos. Durante o bate-papo esse meu amigo explicou melhor seu ponto de vista, dizendo que quando crianças e jovens normalmente temos tios, tias, avós, primos, pais. Com o passar do tempo começam as nossas perdas, em geral os avós partem primeiro, depois alguns tios ou mesmo nossos pais; em seguida se vão os nossos contemporâneos, colegas e amigos, irmãos. Estamos, pois, nessa fase de perdas, segundo ele.

 

Prefiro pensar - não sei se como forma de consolo inconsciente - que se por um lado com o passar dos anos seguimos perdendo diversos entes queridos, por outro também começamos a ganhar novos, como sobrinhos e netos - não que eu tenha pressa em ser avô, de forma alguma - diminuindo um pouco assim o desequilíbrio na balança, que sempre nos será desfavorável. Além disso, mesmo que alguns de nossos amigos resolvam partir antes da hora - e sempre achamos que os que partem o fazem cedo demais - por outro lado aqueles que ficam têm o laço de amizade fortalecido com o avançar do tempo.

 

Esses laços vão se fortalecendo justamente por causa dos acontecimentos e experiências que são compartilhados ao longo dos anos. São situações vividas em comum, tanto aquelas que classificamos como boas como aquelas ditas ruins; circunstâncias pelas quais passamos ao lado de quem é importante para nós, afinal de contas. Crescemos como pessoas, em outras palavras, uns ao lado dos outros; tornamo-nos mais fortes e sábios, nosso espírito ganha temperança e resiliência. Da mesma forma que para temperar o aço é necessário mergulhar o metal diretamente em água fria após sair da fornalha, nossos espíritos também têm que ser provados, testados para que se fortaleçam. Dessa maneira, mesmo que a princípio não compreendamos a razão de uma perda dolorosa, com o tempo aprendemos a lidar melhor com esse tipo de acontecimento porque as provações acabam nos tornando mais fortes.

 

Tenho certeza que se considerarmos nossa vida como um todo, desde o início, no final das contas saímos sempre ganhando; falo por mim, pelo menos. Tive pais, avós e tios - tenho muitos tios, ainda - com os quais aprendi muito; amigos verdadeiros com quem posso contar em qualquer situação também os tenho; tenho irmãos que são amigos; família que é um verdadeiro tesouro. Sou rico, não de bens materiais, de forma alguma, mas de experiências vividas com todas essas pessoas. Então, mesmo que eu esteja numa fase em que a vida já há algum tempo começou a me tomar de volta o que me deu, com certeza eu sempre terei algo que jamais me será tomado: as lembranças do que vivi e tudo o que aprendi.

 


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