O que vem depois da tragédia - Jornal Fato
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O que vem depois da tragédia


 

Aos 38 anos, vivi, neste domingo(26), o dia mais traumático de minha vida. A caminho de Vargem Alta, ao pé da serra de Soturno, a viagem foi interrompida, abruptamente, por uma tragédia.

Um motociclista fez o imponderável. O impacto foi inevitável. Ele morreu no local e, confesso, um pedaço de mim, também.

Pelo que disseram testemunhas e vizinhos do homem, que morava na comunidade, trata-se de um vigia escolar, de 70 anos, que há pouco adquirira a motocicleta e, naquela manhã, como fazia todas as manhãs de domingo, saía do bar onde costumava jogar baralho com os amigos.

Foi tudo muito rápido.

Mal subiu na moto, estacionada sobre a calçada, se lançou rumo à rodovia, sem olhar para os lados, sem prender o capacete, sem deixar tempo para qualquer manobra que evitasse a colisão.

A esta altura, já escrevo sob forte emoção. Cada linha do que redijo me faz relembrar o momento da tragédia - como se fosse possível, por um instante sequer, esquecê-la.

Cada letra me pesa na alma, mas é necessária para manter o compromisso que assumi com o leitor - quando decidi pelo jornalismo e me tornei, mesmo involuntariamente, pessoa pública - de não esconder a verdade. Doa a quem doer. E como me dói.

Saber que fiz o possível para evitar o pior, que trafegava em velocidade compatível com a via, ainda não é o suficiente. Nem em meus piores pesadelos imaginei um dia viver algo assim. Sinto por mim, mas, sinto, principalmente, pelos familiares da vítima, alguns dos quais vi chorar ao se depararem com o corpo do ente querido.

Mas creio, piamente, que tudo o que nos acontece tem uma razão de ser e, talvez, a tragédia que se abateu sobre mim seja o combustível para que o jornal possa se engajar em ampla campanha para evitar que dramas como esse se repitam.

Como jornalista vejo, corriqueiramente, casos assim divulgados à exaustão. Cachoeiro tem a terceira maior frota de motos do Espírito Santo e sei que a maior parte dos leitos da Santa Casa está ocupada por motociclistas acidentados.

São acidentes que podem ser evitados. Não por manobra no último instante, quando já é tarde demais. Mas pela conscientização, sobretudo dos motociclistas, mas também de pedestres e motoristas, para a direção defensiva, a prudência e o respeito às leis de trânsito. 

 Vale a pena lutar por isso.


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