É o que é, não o que tem - Jornal Fato
Colunistas

É o que é, não o que tem


 

A cidade tem dois jornais diários, "Espírito Santo de Fato" e "Aqui Noticias". Jornais de gente trabalhadora e que, cada vez mais, aprimoram a qualidade. Escrevo na imprensa local há 50 anos e, por isso, vejo os dois lados: a procura intensa em buscar leitores e o esforço de tantos jornalistas, profissionais ou amadores, tentando levar notícias de nossa cidade e região para leitores e cidadãos. (Não era propriamente sobre jornais o objeto desta crônica, mas não pude deixar de fazer as considerações ai de cima, para conclamar o cachoeirense e os moradores da região sul do Espírito Santo a prestigiarem seus órgãos de imprensa: eles serão tanto melhores quanto mais prestigiados - é uma conjunção comercial, cultural, noticiosa e etc. Se o leitor não compra jornais da terra os jornais da terra não podem prosperar; eles têm viés comercial. Se o leitor compra ou assina jornais da terra, dão a eles sustentáculo econômico que os permitem ser cada vez melhores, cobrindo todos os assuntos. Igualmente as revistas. Por ai se faz bom jornalismo que, tanto quanto dos que o fazem, depende de quem os lê).

Como faço todas as manhãs, acabo de folhear os dois jornais referidos, que anunciam o aniversário de Winston Roberto Machado e o fazem de forma que achei admirável. Há alguns anos alguém me disse que determinada pessoa, quando escrevia sobre algum cidadão, escrevia sobre o que ele era; não sobre o que ele tinha, por mais que tivesse bens materiais.

Foi o que vi nos dois jornais desta quinta-feira que passou: não se falou, em nenhum momento, no grande empreendedor, proprietário de grande empresa de transporte, sólida de muitos anos; não se falou no grande empresário que Winston Roberto é. Afinal, quantos grandes empreendedores, quantos grandes empresários temos? Arrisco dizer - temos de sobra.

Falou-se, sim, na qualidade maior de Winston Roberto, e vou transcrever o que os jornais publicaram e o que os servidores do Hospital Infantil, que é presidido por Winston, disseram: - "Winston Roberto Machado é humilde e tem dedicação e empenho em favor do Hospital Infantil Francisco de Assis" e tem mesmo e muito mais.

Isso casa com aquilo que eu ouvira: bom mesmo é falar sobre o que a pessoa é, não sobre o que tem. São muitos em Cachoeiro, mas ouso dizer que Winston Roberto é dos maiores, e isso honra a cidade, e isso honra as instituições a que ele pertence e serve, e isso não só honra, como dá dignidade a centenas de crianças e profissionais que vivem ao redor dessa especial instituição que é nosso Hospital Infantil. Parabéns, e não principalmente pelo seu aniversário, Winston Roberto Machado!

 

Justiça Atrasada Pode Ser Picaretagem

Wilson Simonal era um cantor popular que, na época da ditadura, arrastava multidões. Aplaudido de pé, em shows, por milhares de fãs ensandecidos. Nessa época, começou a se formar ao redor de Simonal, a imagem de que ele era dedo-duro. A imagem cresceu quando um de seus funcionários foi demitido e apanhou da polícia. Disseram que era coisa do Simonal. O tempo era de silêncio e quase não se falou no assunto. Mas o prestígio de Simonal, abalado pelo episódio, foi minguando, minguando e acabou-se o Simonal dos grandes estádios e palcos.

Mergulhou e não mais apareceu com seu charme dominando a platéia, o que fazia como ninguém. O máximo que fez foi passar a cantar em churrascarias, para público pequeno e bem diferente daquele que o adorava antes. Sumiu na poeira da estrada.

Anos após, uma TV resolveu dar a ele uma chance. Simonal reapareceu no vídeo. Mal apareceu e alguém, comentarista importante, caiu-lhe de pau, lembrando todo aquele episódio efetivamente nefasto na vida brasileira.

Inexperiente, vi, no comentário, motivo de orgulho. Simonal não deveria ter mesmo qualquer direito de aparecer nos meios de comunicação. Exemplo e lembrança de tempo que não mais deveria voltar. Só que Simonal estava moralmente morto.

No primeiro elogio que fiz ao desempenho do comentarista demolidor de fatos mortos, que esperara "a morte das coisas só para poder tocá-las sem medo", recebi severa lição de amigo que havia apanhado nos porões da ditadura.

Disse-me Paulo Domingues: - "Justo seria que batessem nele no dia em que teria praticado os atos relembrados. O que se quer hoje, não é restaurar uma justiça que se perdeu. Querem é retirar o trabalho de quem quer trabalhar. E esse é direito que não tem nada a ver com o passado, é direito inalienável. Obstruí-lo, é cometer arbitrariedade maior do que a ocorrida no passado. Porque não bateram nele na época própria, para restaurar a justiça do tempo certo?"

A lição colou na minha pele. Dela não abro mão, contra tudo e contra todos. Atacar o passado morto e enterrado, ainda que do inimigo, não é satisfazer a justiça; é fomentar a injustiça e o desrespeito aos direitos humanos, coisa de covarde.

Nada obstante defesa que fiz do ex-Prefeito Tasso Andrade, entendam que quem é adversário continua adversário, quem é companheiro continua companheiro, quem é certo ou errado, continua certo ou errado. Nada mudou. A luta é pelo direito, pela verdade, por idéias. Nunca por pessoas.

Pisar na cabeça do que não tem poder, é coisa que não se deve fazer. Deixem que Comissões Parlamentares de Inquérito e a Justiça cuidem do assunto e cheguem à conclusão ou punição que tiverem de chegar. Isso presta. O resto não presta.

Quem nisso vê enigmas, se bem devesse achar coerência, tenha certeza: um dia, quando olhar para o lado, talvez sem poder (acabou), talvez sem amigos (fugiram), talvez injustamente espezinhado (em acusação específica), encontrará alguém a lhe defender - quase sempre não são os amigos dos bons tempos. Não é parceria ou amizade. Nem perdão. Menos ainda, adesão. É só defesa de idéias, da verdade e da justiça. Não de pessoas. (versão atualizada de crônica de janeiro de 1998, que republico por pertinente com os tempos atuais).

 

Curtas e Grossas

1 - FESTA DE CACHOEIRO - Não farei comentários sobre a pobreza da Festa de Cachoeiro deste ano (no que diz respeito à participação oficial do Município, conseguiram fazê-la pior do que a do ano passado). A festa trás, de bom, quatro peças teatrais, exposição que me pareceu interessante ("Cachoeiro Mostra Artesanato", tendo como curador o competente Lucimar Costa) e o lançamento de livro produto da Lei Rubem Braga: - "O Grupo Escolar Bernardino Monteiro: O Projeto Educativo e as Práticas da Escolarização no século XX", da também competente Lidiane Picoli Lima. Além da pequena mas expressiva parte cultural e da tradicional e interessante maratona dos Cachoeirenses Ausente e Presente, quase não sobra nada, exceto os R$ 300.000,00  que, acho, será o valor gasto com dois shows populares no apertado espaço (para isso) da Praça Jerônimo Monteiro.

2 - "AUMENTO" SALARIAL NA PREFEITURA - Vergonha município governado por trabalhadores pagar "aumento" equivalente ao roubo nas contas do FGTS - em redor de 3%. Cálculos que me deram e que não auditei, dizem que se a prefeitura dispensar uns 100 comissionados não concursados que fazem pouco na administração, o aumento do servidor poderia passar um pouco a inflação anual. Mas, como disse o Lula, seria esperar demais, já que o costume dos seus companheiros - dele, Lula - passou a ser outro.

3 - PENSAMENTOS DE UMA NOITE DE INVERNO - I - O Brasil só vai melhorar quando trocar de governante, ou seja, quando Dilma sair. É opinião puramente baseada na economia, nada de política. II - Alguma coisa muita séria me manda preocupar com a saúde da Presidente Dilma e com a da ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster.


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