Crônica - Jornal Fato
Colunistas

Crônica


Crônica

 

A crônica, como o conto, são textos curtos. A crônica inicia-se em jornais cariocas em formato de "folhetim", algo proveniente da influência francesa. Na literatura brasileira um dos primeiros cronistas foi José de Alencar. Machado de Assis, nos anos cinquenta do século XIX, aos vinte anos de idade, inicia neste gênero literário toda a sua verve irônica e crítica. Amadurece, e se notabiliza, nos contos e romances, sem nunca abandonar a crônica. Muitos o seguiram neste gênero literário: João do Rio, Raquel de Queirós, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga (cachoeirense que produziu os melhores textos curtos: a crônica moderna).

 

A origem da palavra nos leva a pensar no tempo (do grego - khronós). O fato jornalístico e o cronista, muitas vezes, se confundem. Os textos, dos jornais, são curtos. O jornalista e o cronista registram, igualmente, um momento da urbe, da rua, das pessoas (instantes da vida e do mundo). Diferente da visão jornalística (que registra o presente para que se faça o futuro; a crônica parece fixar-se no presente com as influências passadas - recentes e remotas.). Na crônica buscamos as experiências vividas, reminiscências, vida da infância e adolescência; lembranças de pais, amigos e momentos marcantes e sem nenhuma preocupação com o futuro.

 

A relação do cronista e o tempo é integral. Ele esmiúça o tempo em busca das suas lembranças. Mas o seu relato, sua fixação, sua necessidade é o presente. Seu relato, muitas vezes, lembra o jornalístico, sem a preocupação do fato real. Ele mascara, busca ficção. O cronista e o jornalista se assemelham na observação dos fatos; se diferenciam nos relatos (nos textos). O fato existe, o instante é o mesmo, a cidade e as pessoas idem, mas o relato muda. A verdadeira crônica, apesar de registrar o presente (um tempo marcado na cidade e nas vidas das pessoas), ela se torna atemporal (mesmo quando registramos em seu fim: o dia, mês e ano). Pois: uma garça; um bem-te-vi; um homem solitário em volta de um rio ou parque; um homicídio ou um acidente serão sempre os mesmos. Muda, apenas, o olhar e o sentimento do cronista ao descrevê-los. Com isso, o cronista, com o seu olhar, sob a influência das coisas vividas: modifica uma data, as intempéries de um dia, a maneira de sorrir de uma criança... Ele altera o tempo em que vive, sem perder o registro do presente, sem se preocupar com o que virá no futuro. Torna o registro do momento mais belo para facilitar e alegrar as comparações de gerações futuras.

 

O relato jornalístico deve incluir minúcias dos fatos - o mais puro possível (para que o leitor obtenha suas próprias conclusões). O cronista busca, com sutileza, quase imperceptível, aquilo que está à volta, aquilo que desfaz a violência, a agressividade, a destruição e a feiura na natureza. Busca as amenidades... Ele deve descrever as coisas que nos faz humanos, mesmo nos momentos tristes da humanidade. Ele não deixa a maldade e a violência desfazerem a beleza da vida. Vai alertando sobre as razões da alma. Modificam rios, lagos, praias, passarinhos, sorrisos, lágrimas... Relatam paixões e amores que tornam a vida emocionante. Mesmo que dentro de si nada disso exista.


Comentários