Críticas sim, AÇÃO TAMBÉM - Jornal Fato
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Críticas sim, AÇÃO TAMBÉM


 

Poucas pessoas me causam, causaram e causarão tão boa impressão quanto D. Zilma Coelho Pinto causou - entre nós ela é conhecida como D. Zilma da Campanha de Alfabetização. Muitas vezes a elogiei, e ainda é pouco. Seu desprendimento, sua disponibilidade, sua luta contra o analfabetismo, são horizontes que marquei para mim, embora, reles mortal, eu esteja bastante longe dela.

 

E sua quase pobreza me emociona.

 

Foi por isso que, quando a autora Deane Monteiro Vieira Costa lançou seu livro "A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos no Brasil e no Estado do Espírito Santo (1947/1963)", corri a publicar nas redes sociais o texto abaixo, literal e desabusadamente oferecendo-o para venda.

 

Escrevi: - "Esse livro, que acaba de ser lançado, conta a história da cachoeirense ZILMA COELHO PINTO, da Campanha de Alfabetização, e pode ser adquirido por R$ 50,00, a unidade. Vou fazer uma provocação do bem. Nós que ficamos criticando a tudo e a todos, porque não adquirir esse livro e o doamos para uma das bibliotecas escolares de Cachoeiro? E porque não adquirir mais um para nós mesmos? Vou atender a essa minha sugestão - já atendi. (Críticas sim, AÇÃO TAMBÉM)".

 

Publicado o texto, no mesmo facebook veio resposta da autora:

 

- "Reconhecimento aos amigos Higner Mansur e Luílma Pinto Mendonça: incentivadores da produção da história local. Pensem na emoção que tive em ler o texto de Higner Mansur, publicado em sua rede social e que tenho a honra em compartilhar. Ele indica a compra do meu livro como leitura pessoal e como item necessário aos acervos das bibliotecas capixabas. Além disso, promoveu uma rede de compartilhamentos e também escritos em forma de respostas com palavras de encorajamento de Luílma Pinto Mendonça, Bruno Torres Paraíso, Dalvo Neves, Fábio Pirajá, Thiago Sandrini Mansur, Ronaldo Gonçalves, Claudia Sabadini, Lenilce Pontini, Adelson Vivas, Adélia Souza Fernandes, a pesquisadores como eu, que buscam com todo ardor construir uma história da educação do Estado do Espírito Santo. Tenho um verdadeiro respeito e carinho pela vida e obra da professora Zilma Coelho Pinto (1909-1986), que narro em meu livro. Sempre vou divulgar e produzir textos sobre ela e sua obra dedicada à educação brasileira. Uma mulher e professora que construiu de forma particular e nobre sua identidade, muitas vezes em discordância com as proposições sociais excludentes de seu tempo".

 

Pois é, aqui estou repetindo nesta página a convocação para que compremos esse livro - dois deles - um para nós e outro, tal qual D. Zilma faria, para as bibliotecas escolares de nossa cidade e da região. Ele estará à venda na Bienal Rubem Braga, que começa em 31 de maio - Críticas sim, AÇÃO TAMBÉM.

 

Coisas de DeMolay

 

 

Todos os anos, a centenária Loja Maçônica Fraternidade e Luz de Cachoeiro, faz festa de confraternização para homenagear as mães. A comemoração deste ano foi muito especial, pois a ela compareceram os jovens cachoeirenses da Ordem DeMolay.

 

"A Ordem DeMolay é a maior organização juvenil do mundo, de fins filosóficos, filantrópicos e sem fins lucrativos, já tendo iniciado mais de 2,5 milhões de jovens.

 

Trabalha alicerçada na máxima de que "educando-se o jovem estaremos nos eximindo da tarefa de ter que castigar o adulto".

 

Fundada em 1919 em Kansas City, Missouri, EUA, objetiva formar jovens de 12 à 21 anos de idade, melhores cidadãos e líderes através do desenvolvimento e fortalecimento da personalidade e enfatizando virtudes indispensáveis para a boa conduta social. É instituição dirigida por Maçons".

 

A confraternização deste ano foi mais especial ainda, graças ao menino Arthur Staphanato, que - em homenagem às mães - deu show de interpretação, coberto de muita razão e emoção ainda maior. Vai longe o menino Arthur, que está na foto.

 

Fantasma de Meus Tormentos

 

Christian Silva

 

O vislumbre da janela de um ônibus é uma mania peculiar. Refletem-se pensamentos, problemas, a solução destes, e tantas coisas mais...

 

Obviamente não se raciocina por absoluto; basicamente imaginam-se coisas em pequenas quimeras do acaso. Mas, quando, ao perceber que não se está realmente sozinho, e que há, não do seu lado, e sim atrás de você, um alguém, é inquietante.

 

Pior é constatar que quem habita o assento de trás, não está lá. Está e não está. Confuso, não?...

 

É uma criatura de aparência normal, meramente uma pessoa, um homem. Arrepiar-se de súbito, é atitude imprecisa. O melhor é permanecer neutro. O medo, quando ignorado, pode vir a ser facilmente descartado. Mas o instinto é irracional. Você se amedronta. Acovarda-se na sua, feito um garoto que teme um estranho que o fita pelo caminho. Sinceramente, confesso que não reagi deste modo.

 

Me pus a pensar em quem pudera ter sido, o que vivenciara tal criatura hipotética. Talvez um pai de família exemplar, um esposo honrado, um parente insubstituível (como todos o são). Quem sabe fosse um empresário, ou entusiasta do inacreditável. Razoavelmente feliz, devia ter sido, ou alegre pelo menos. Talvez um proletário qualquer, sem esperanças de algum luxo na vida. Ou um aventureiro golpista, perito em enganação alheia e ilusão verbal.

 

Quando, ao acompanhar com os olhos, os velhos e abandonados casebres de um antigo ponto da cidade, pelo qual o ônibus passava, foi que vim perceber que não havia ninguém no assento de trás. Quisera fosse, tudo, só coisa de minha cabeça...

 

Fito a linha do meio-fio da calçada. Acompanhando-a percebo a me encarar, sem expressão adversa, o mesmo ser, surgido de algum recôndito esquecido, de um encargo de consciência. Gelei. Ofegava moderadamente. Nesses momentos é peculiar se lembrar de santos de todos os milagres e preces. Com certeza o mestre de todo o universo é o mais indicado, e pra todas as horas.

 

O intrigante em tudo aquilo, era seu motivo, desconhecido, para tal criatura vir me cutucar. Eu, que estava tão quieto na minha condução, indo à casa de um amigo de longa data, estava inocente de qualquer acusação, até que, se por ventura, isso pudesse vir a ser contestado.

 

Descrente que sou, procurei me esquecer o mais rápido que pude deste meu fantasma ocasional. Estranhamente, ele já não se encontrava mais em lugar algum.

 

A condução parou no ponto seguinte, onde fiquei. Desci. Precisei atravessar a avenida bem movimentada, exatamente como em capitais de renome. Tudo correu bem, até que, no meio-fio, me distrai com o som de uma buzina nervosa, antecedida por freada brusca e procedida por dois palavrões recíprocos. Um homem de aparência debilitada e vestimentas deploráveis, me veio pedir uns trocados. Não lhe dei atenção.

 

Tentei prosseguir, mas não previa uma pedra grande e quadrada pelo caminho. Tropecei. Ia cair de testa, no meio-fio, não fosse o velho debilitado me segurar pelo cotovelo esquerdo: - Tome cuidado, moço... - falou. Então se virou e seguiu seu caminho.

 

Senti o maior desprezo por mim mesmo. Mas logo depois gelei outra vez. O velho que não me deixara cair de testa no chão era o alguém a quem me neguei dar uns trocados. Mas, mais do que somente isso. Ele era o fantasma de meus tormentos, naquele ônibus.

 


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