Cinema na Escola Pública - Jornal Fato
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Cinema na Escola Pública


 

Dia desses, varejando notícias na internet, descobri que um projeto de lei do excelente senador Cristovam Buarque havia sido aprovado e sancionado pela presidência da República. O projeto acresce parágrafo ao art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, especificamente quanto aos currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio.

 

O parágrafo 8º, acrescentado, diz que "a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais".

 

Viva, pensei, agora vai, e pensava também no nosso cachoeirense Cine Clube Jece Valadão, tão cheio de colaboradores com grande experiência na área, com poucos recursos financeiros e com centenas de filmes em suas prateleiras. Casamento perfeito - levantamos o Cine Clube histórico e a prefeitura gastará pouca coisa - o Cine Clube não visa lucro, apenas precisa se manter com alguma verba. Dizem que a prefeitura não tem muito dinheiro - é a fome com a vontade de comer - casamento perfeito de quem tem pouco com precisa de pouco.

 

Qual o quê!!! Fui ver, a alteração da lei mandando incluir filmes no currículo escolar é de junho de 2014 - dois anos passados - e nada de ela ser cumprida em Cachoeiro. Perde a prefeitura, perde o Cine Clube e perdem, principalmente, criançada e juventude, em período de vida em que eles mais necessitam desse apoio.

 

Cinema, como livros, são amplíssimas janelas abertas para os jovens - e as janelas estão fechadas em Cachoeiro, dois anos depois da nova lei (e nem seria preciso lei específica para isso). Cachoeiro não tem e acabou.

 

Esquecendo esses dias presentes - que para mim é passado - peço, requeiro, solicito, imploro aos futuros candidatos a prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, terra de gente culta (tem hora que nem parece) que coloquem em seus planos de governo essa atividade importante de cinema nas escolas. Quem implantar isso trará luz ao seu governo e a Cachoeiro, reviverá o histórico Cine Clube Jece Valadão e abrirá as portas para a juventude. E tudo a preço de banana - às vezes penso que preço de banana atrapalha. Tá feito o registro, aproveitem, senhores candidatos.

 

(Esta crônica estava pronta há uma semana, mas eu queria ter certeza absoluta do que estava dizendo. Para isso, encaminhei-a para três profissionais da educação, servidoras públicas, para que me dissessem se havia nela algum excesso ou falta. As três - que são da educação pública - concordaram comigo e uma delas me enviou esse escrito, do qual muito me envaideço: - "Esta é sim, a nossa realidade. Não há orientação pedagógica específica para o trabalho com filmes nacionais, nas escolas de Ensino Fundamental, em atendimento à lei federal. Gosto desse seu jeito de abordar essas questões em suas crônicas: propõe, critica ao chamar a atenção de todos, e encaminha. Parabéns e obrigado pelo que faz por nossa sociedade cachoeirense").

 

A Arte de Neia Mourad

 

 

Neia Mourad é a artesã da semana. Desde criança se mostrou apaixonada pela pintura em tela; nascida, porém, em berço humilde, não teve orientação técnica ou profissional para exercer sua missão, nunca tivera aulas de pintura.

 

Ocorre que começou a ver as telas pintadas por outras pessoas amigas, e achava que ela poderia fazer trabalhos semelhantes, com temáticas que iam se formando em sua cabeça e no coração.

 

Um dia aconteceu. Vendo quadros pintados por Maria Inez Matos, excelente pintora cachoeirense, que pintava como Neia gostava e dava aulas de pintura, não perdeu tempo. Matriculou-se na escolinha da Maria Inez e pode desenvolver todo seu talento artesanal nas pinturas de quadros, que hoje comercializa prontos ou por demanda.

 

E Neia quer ir mais além. Para ela, a trajetória ainda não terminou. Como os afazeres profissionais no Café Mourads, no centro de Cachoeiro e sua atividade junto à Igreja Católica, a impedem de frequentar escola superior de Artes Plásticas em outras cidades, já está à espera de que Cachoeiro tenha uma escola dessas. Com certeza, disse Neia, ela será das primeiras alunas dessa possível futura escola.

 

Arte é assim que se faz, com vontade e com emoção.

 

O que é História?

 

Thawan Santos

 

Em muitas leituras, aulas e conversas, que ocorreram no Mourad's sempre acompanhado de um delicioso cafezinho, sempre me perguntam uma coisa: "Professor Thawan, o que é História?".

 

Ora, responder a essa pergunta é muito simples. Mas antes, devemos esquecer aquela história clássica que encontramos em livros feitos pelo MEC, e de historiadores desinformados que não entendem o que na verdade é História. A História, antes de mais nada, é uma ciência, e deve sempre ser estudada com tal. Logo, deve ser estudada e analisada por profissionais da área, pois estes, apesar de não serem os donos da verdade, são os que mais se aproximam dela, assim como qualquer outro profissional de outra área.

 

Mas voltando ao assunto inicial: - "O que é História?". Encontramos em livros do MEC e na boca de alguns historiadores a seguinte resposta: "História nada mais é do que olhar o passado para entender o presente e tentar prever o futuro."

 

Em certo ponto tal argumento é correto. Explico melhor. A História de fato olha o passado e tenta estudá-lo através de vestígios deixado pelo homem ao longo do tempo, sejam eles uma roupa, uma moeda, um utensílio, uma música, dança ou qualquer outra coisa. E para estudar tais objetos utilizamos de nossa contemporaneidade com os meios tecnológicos que temos e diversos estudos acumulados ao longo do tempo. Assim, conseguimos entender como a sociedade evoluiu até chegar ao ponto em que está nos dias de hoje.

 

Mas, a última parte que diz "tentar prever o futuro", não cabe à história estudar tal campo. Isso porque como já dito, a História é ciência e ciência trabalha com provas materiais/concretas. Como o futuro ainda não aconteceu, não há provas materiais que ele realmente irá existir como escrito; assim, tal frase foge do verdadeiro campo de estudo da História, classificando-a em parte como enganosa.

 

Para mim a História vai muito além dessa frase. História é o estudo de todo e qualquer pensamento, seja ele material ou imaterial, deixado pelo homem em qualquer parte do globo ou fora dele: onde vemos que, de certa forma, tais materiais resistiram ao longo do tempo, debaixo da terra, em baús, ou na memória de qualquer pessoa que tem uma história para contar. (Thawan Santos é professor de História em Cachoeiro)

 

 

 


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