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Ao nosso lado


 

Ninguém mais precisa dizer o quanto é lamentável ver homens e mulheres de todas as idades acusando de serem feministas os professores que definiram o tema da redação do Enem: "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira".

 

Primeiro, que ser classificado como feminista não deveria ser essa espécie de xingamento, mas sim um elogio, pelo menos para quem discorda do tratamento discriminatório que a sociedade ainda dispensa às mulheres no Brasil. Ou alguém aí gosta de ver sua mãe ou esposa se matando de trabalhar e recebendo salário inferior ao do colega que desempenha a mesma função? Alguém acha que sua filha tem mesmo que ser estuprada porque saiude minissaia? Sim, pois, quando dizemos "mulheres", não estamos nos referindo a seres imaginários e sim àquelas pessoas do sexo feminino que convivem conosco: nossas mães, filhas, esposas, namoradas, amigas, nós mesmas.

 

Segundo, que ninguém pode discordar que o problema existe. Somos o sétimo pais do mundo em homicídio de mulheres por questões de gênero, que, simplificando muito, chamamos de violência doméstica. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que, de 2009 a 2011, quase 17 mil foram mortas, o que dá 464 a cada mês e impressionantes 15 mulheres assassinadas por dia no Brasil. Para ficar só aqui no Espírito Santo, que costuma alternar-se entre o primeiro e o segundo lugar no ranking nacional, 24 mulheres foram assassinadas nos dois primeiros meses de 2015. E os boletins de ocorrência revelam que uma mulher capixaba é agredida a cada cinco horas.  Motivos principais: ciúme, sentimento de posse, "desobediência" da mulher.

 

São números tão expressivos que chegam a serreveladores. Homens que agridem uma mulher a cada cinco horas também não são seres imaginários: são os nossos maridos, pais, namorados, filhos. Ricos e pobres, negros e brancos, velhos e jovens. São estes, que conhecemos muito bem: os que estão ao nosso lado e dizem nos amar, masusam a internet para vociferar contra as "feminazi". Estes, que nos acusam de fazer "mimimi" por causa de "besteira", tentando desabonar a luta contra a violência doméstica dizendo que homenstambém são vítimas, em vez de, por isso mesmo, nos apoiarem. Estes, que menosprezam a percepção inegávelde que o número de homens mortos e agredidos por mulheres é certamente muito menor, a ponto de nem existir levantamento sobre isso no país.

 

Então, este é mais um daqueles casos em queargumentar é perda de tempo, porque temos pela frente gente raivosa e de má fé. Nada mais a dizer, a não ser o óbvio: cadeia neles!  


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