Fé, política e hipocrisia - Jornal Fato
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Fé, política e hipocrisia

Há muito tempo observo o pior da mistura indigesta entre fé e religião, que geralmente descamba para a hipocrisia


- Foto/Montagem: Reprodução Web

Criada em igreja evangélica, deveria me alegrar com tantas interferência dos ditos homens de Deus, ou de bem, que zelam pela família e pelos bons costumes. Dos outros. É por isso que preciso me manifestar sobre o projeto intitulado "Eu Escolhi Esperar", que prevê abstinência sexual entre jovens, aprovado pela Câmara de Vitória. Na minha adolescência na igreja já ouvi falar dessa proposta nascida nos Estados Unidos para manter castos e virgens jovens evangélicos. Natural, e até recomendável, tratar disso numa comunidade de fé.

Agora o que homens públicos querem com essa proposta? Entendo que essa decisão é de foro íntimo e pessoal. Não é uma decisão por força da lei. São atitudes que deveriam ser movidas unicamente pela fé. A expectativa da Câmara de Vitória, onde o projeto foi aprovado, é promulgar a lei em fevereiro, em sessão ordinária.

A justificativa é evitar/prevenir a gravidez precoce. Da minha parte, repito, entendo que é uma questão de foro íntimo. O que "nossos" homens públicos devem fazer é trabalhar bravamente para evitar a miséria, a fome, a falta de acesso à saúde, educação, infraestrutura, moradia e tantas outras políticas públicas que por vezes capengam por falta de vontade política e comprometimento com o interesse coletivo. Devem inclusive trabalhar pela prevenção da gravidez na adolescência.

Vale lembrar que muitos dos "nossos" homens públicos, que defendem a moral e os bons costumes e cuidam da sexualidade alheia, têm a família reserva com muitas benesses que a titular não tem. Inclusive muitos ditos homens de Deus são adeptos da prática.

Sonho com o tempo em que os homens públicos de todas as esferas de poder trabalhem por políticas que garantam saúde, educação e qualidade de vida para todos os brasileiros, indistintamente. Independente de condição social, e principalmente, credo religioso. O santo nome de Deus não pode continuar sendo usado em vão impunemente. Sempre para angariar benefícios pessoais e julgar e condenar as pessoas.

Por hora escolhi esperar por políticos que façam acontecer o que o povo espera de seus verdadeiros representantes. Aos que insistem em interferir em assuntos de foro íntimo e negligenciam a atuação parlamentar impecável, vai um óleo de peroba aí?


Anete Lacerda Jornalista

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