Iê!

Santo de casa faz milagre,

disse-me Vovó Emília.

Na batina do padre

tem dendê, e não ervilha.

Encruzilhada é bom caminho,

pra quem sabe aonde vai.

Numa reta em desalinho,

quem é bamba jamais cai.

Minha mulher é cartomante

dos mistérios da lagoa.

Sou um velho navegante

do balanço da canoa,

camará!

 

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É verdade que a chuva suscita a poesia no olhar de quem, segundo o tijucano, "tem olhos de ver". Que o diga meu irmãozinho Stéfano Fabris-Castell, amizade firmada em trocadilhos, sincronicidades e, claro, alguns perrengues. Tempos atrás, ele me enviou umas fotos daquela rua ali da antiga estação, no Guandu, cujo nome agora me foge. Mais do que uma chuvosa manhã, as imagens me revelaram, através do olhar lírico de Stéfano, um espaço convidativo a um sábado vadio num balcão qualquer daquelas imediações, de onde o sujeito pode - e deve - admirar a rua, a chuva... a vida.

Sempre tive comigo que o bairro Guandu é, em essência, um belíssimo soneto de nostalgia.

 

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De Cachoeiro ao Rio de Janeiro. "Ih, lá vem o Bezerra, de novo, com sua prosa de uma pauta só." Não gostaram? A porta da página é a serventia da crônica. Sigamos. Tive a alegria de voltar à minha terra carnaval, dia desses. Na ocasião, entre outros contos (nenhum, entretanto, do vigário), escutei um enredo digno de um samba do Dicró: amigo meu, baiano radicado em terreiros cariocas, devoto fervoroso dos catiços, conhecedor dos segredos da calunga pequena, ademais figuraça de marca maior, decidiu agradar sua querida sogrinha com um mimo, no mínimo, singularíssimo...

- Trouxe um presentinho pra senhora.

- Você me dando presente?

- Sim. Uma dentadura.

- Eu já tenho uma.

- A que eu 'comprei' é novinha.

"Mentira, mãe", interveio a esposa do meu amigo, que logo emendou:

- É novinha, mas foi apanhada dum defunto.

No que o malandro, sem esperar o próximo contra-ataque do time adversário, imediatamente argumentou:

- Receba, sogrinha. Pense que, de hoje em diante, a senhora dará um beijo duplo. Ninguém resistirá.

Não mesmo.