Daquilo que a gente sempre soube - Jornal Fato
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Daquilo que a gente sempre soube

Pressinto que o limiar textual adiante haverá de ser, segundo (en)canta Maria Bethânia, "gostoso demais"


- Foto Reprodução Web

Inicio esta crônica sem ter a mínima noção de como irei concluí-la, e não há, entretanto, demérito nenhum em tal imprevisibilidade. Ainda assim, pressinto que o limiar textual adiante haverá de ser, segundo (en)canta Maria Bethânia, "gostoso demais". Por ora, urge-me relatar que, outra noite, nosso fiel felino, o Jiló, lançou-me perguntas dignas de um Antônio Abujamra:

- Hoje tem lua no céu?

- Sim.

- Qual?

- Uma meia-lua.

- Meia-lua inteira ou de compasso?

- Sei lá.

- Algum astro próximo à meia-lua?

- Somente uma estrela, que está acima dela, ao nordeste.

- Conhece a estrela?

- Não. Embora eu desconfie que seja a Dalva...

- Por que presumir em vez de afirmar?

- Só posso falar da Dalva que conheço, a de Oliveira, uma praça às margens da Padre Roser, no Irajá. Era, ao menos na minha infância, uma praça fosca e triste. Diferentemente da praça ao nordeste da meia-lua. Esta, sendo a Dalva ou não, parece-me pouco mais cintilante.

- Deixe de ser ingênuo. As estrelas, a exemplo do humanos, tendem a sorrir em desrazão de autoengano.

- Será por isso que a meia-lua, sob más influências, também ensaia um quase-riso?

- Talvez. Nem tudo que reluz é alegre.

De todo modo, em obediência à fé na lida, e ao contrário das dúvidas preliminares, a crônica leva-me a um happy end: o dueto de Ivan Lins e Patti Austin em "Daquilo que eu sei (Believe what I say)", ilustrado por um clipe durante o qual uma moça, embalada pelo contexto da canção, seduz o artista brasileiro. Som e imagem tratam daquilo que a gente sempre soube.


Felipe Bezerra Jornalista

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