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À busca

Minha primeira visita à Marapé


- Foto Divulgação/PMAV

Visitei a cidade capixaba de Marapé, pela primeira vez, quando eu, um moleque de seis anos, aspirante a herói japonês da Rede Manchete (minha armadura do Jiraiya fora comprada no Barra Shopping), ainda morava no bairro de Todos os Santos, no subúrbio carioca.

Fiquei hospedado na casa do meu tio-avô Valter, na comunidade de Lajinha. Recordo-me que eu queria porque queria ir a Cachoeiro de Itapemirim. A pé.

Tadinho. O garoto, que mal havia tido tempo de conhecer direito a "Pátria Amada Rasga-Pão" (para onde viria a se mudar, pouco depois), ansiava seguir direto para "Capital Secreta", então incógnita para ele, à busca de sabe-se-lá-o-quê.

(Re)inventada ou verídica, a lembrança da viagem de volta para o Rio de Janeiro não me exige nenhum esforço: era uma tarde ensolarada, de vento morno, que adentrava as janelas do ônibus feito a "bruma leve das paixões".

Já adulto, acolhido por Cachoeiro, o menino sentiu, enfim, a voz do anjo sussurrar em seu ouvido, dizendo-lhe que, felizmente, sua busca se concluíra.

 

PRESTÍGIO

Não nego que uma das razões para o meu regresso a esta esquina é o fato - com e sem trocadilho corporativo, meu diretor - de poder estar de novo, com periodicidade, no bom e velho jornal impresso, minha escola desde sempre.

De modo que muito me apraz a hipótese de meus escritos serem lidos (ou não) por aquele zeloso criador de passarinhos, que, no alvorecer seguinte, destinará minha página ao fundo da gaiola de seu coleiro cantador. Este, no dever de seu ofício, defecará - brejeiro - sobre meu parágrafo predileto. Ou sobre meu chapéu, na foto de cabeçalho.

Agradecerei, satisfeito, por tamanho prestígio literário.

 

TAL CAETANO

A hora da refeição, eventualmente, sugere agradáveis conversas insalubres. "Nossa empregada encontrou um camundongo, no último fim de semana, e os dois bichanos lá de casa nada fizeram. Só olharam para o coitado e saíram, você acredita?", conta-me, desolada, uma colega de trabalho, enquanto eu devoro - tal Caetano - minha marmita.

"É, já não se fazem mais gatos como antigamente", comento. ("Nem piadistas de refeitório", emenda, também desolado, o editor.)

 

OUSADIA

No que tange ao universo empresarial, o baiano vendedor de melado de cana por mel de abelha - figuraça que, vira e mexe, dá as caras por aqui - é a (hum, hum) mais fidedigna personificação da ousadia.

Vejamos. Dia desses, nosso amado empreendedor fez sinal para o ônibus parar, e longe do ponto (reafirmando, assim, seu perfil arrojado), mas, ao invés de embarcar e oferecer seu produto aos passageiros, tentou vendê-lo para o motorista. Foi, é óbvio, um case de fracasso.

 

SEGREDO

Ao contrário daquela máxima marquetrefeira, o segredo - subverteria o malandro - é o negócio da alma.


Felipe Bezerra Jornalista

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