Isolamento social ainda é necessário - Jornal Fato
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Isolamento social ainda é necessário

As medidas de isolamento têm se mostrado eficazes mundo afora e alcançam bons resultados também no Espírito Santo e Cachoeiro, que agiram rápido


É preciso encontrar um meio-termo entre as preocupações sanitárias e econômicas que afligem o Brasil e o mundo, e chegaram a ponto crítico em Cachoeiro de Itapemirim, onde um expressivo grupo de empresários já não aceita mais a imposição do fechamento de lojas, inicialmente, até 4 de abril.

 

A insatisfação foi acentuada depois que o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou, em rede nacional, defendendo a volta da normalidade e o isolamento vertical, apenas de idosos, que compõem o principal grupo de risco do coronavírus.

 

As medidas de isolamento quase total têm se mostrado eficazes mundo afora e alcançam bons resultados também no Espírito Santo e Cachoeiro, que agiram rápido para conter a ameaça de uma curva mais acentuada.

 

Entretanto, é justamente esse sucesso no combate à doença, interpretado equivocadamente, que serve de combustível para o movimento que pretende romper o isolamento antes da hora. Afinal, são poucos casos e nenhuma morte em solo capixaba.

 

Mas, é preciso entender que não há mais casos de covid-19 e nem mortes causadas pela doença por causa do isolamento social. E rompê-lo, sem critério científico, seria sujeitar a todos, isolados ou não, à pandemia hoje ainda sob aparente controle no ES. A Itália tentou isso e serve de exemplo do que não fazer.

 

Em 28 de fevereiro, quando havia mais curados (45) do que mortos (17 ) e menos de 700 infectados mapeados, alguns prefeitos e governadores de regiões italianas  instituíram medidas como o fechamento preventivo de escolas e proibiram aglomerações públicas, mas foram desautorizados pelo governo central, preocupado com os prejuízos ao turismo e economia.

 

Foi o suficiente para a epidemia explodir. O isolamento total foi decretado novamente, agora em todo o país, quando os casos dispararam, mas já era tarde. Não veio rápido o suficiente para evitar, até ontem, mais de 7,5 mil mortos. Holanda e Reino Unido também abandonaram a ideia de isolamento vertical quando viram o número de casos aumentar e se tornar real a ameaça de colapso do sistema de saúde.

 

As preocupações do setor empresarial são legítimas. Afinal, o Cachoeiro sofreu em janeiro a maior enchente da história e muitos pequenos empreendimentos ou nem tão pequenos, mas já combalidos, não vão aguentar mais longo período sem funcionamento e faturamento, enquanto os custos fixos não cessam. É preciso, sim, calibrar as medidas de isolamento, para que provoquem o mínimo prejuízo possível, porém, sem descuidar da saúde.

 

Falta aos governos, principalmente o central, a adoção de medidas de garantia de renda mínima para os cidadãos e para as empresas, condições de se manter enquanto o isolamento social for a medida indicada por especialistas e autoridades sanitárias para evitar que o coronavírus acelere sua marcha.

 

Do contrário, a experiência europeia demonstra, além de lojas fechadas e economia em frangalhos, teremos, ainda, pilhas de corpos de amigos e parentes para enterrar, ou, quem sabe, sejamos enterrados por eles. Talvez até levados em caminhões para a cremação coletiva, com funerais proibidos, como já vimos acontecer na Itália.


Wagner Santos Diretor e editor Jornalista

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