A vida-morte-poesia

10/11/2016 00:00

A morte vem visitar o tempo.

E ele desbota com as emoções e os afetos.

E, dentre os fracassos, a gente desgasta. A gente esgarça feito tecido que apodrece, se perde nos fios. É tempo dado, doado, perdido. A vida escorre entre danos e perdas. E a arte alimenta o corpo, os desníveis e as frestas. As palavras alinham o escorregadio e o pleno. Ela embolsa o que não foi dito, o que se esvai entre os achados e sentidos. O corte que demarca o homem e o seu legado. As marcas do desconhecido e senhor. As fendas deixadas nos cantos e espaços. As esperanças descosturadas. O amor espreitando nas portas. A morte e seus embates dentre as cenas e marés. Dos rios que encharcam a alma. Das águas que assombreiam o coração. Das vidas que purificam os homens. Não há respostas nem tão poucos ventos. Há caminhos de encontros e finitos. Há passos e deslaços. Permanência dos embargos e dores em prantos de poesia.

 

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Sou das imprecisas penitências. Das margens que habitam meu reverso, os outros lados camuflados pelas rugas e nesgas do tempo e espaço. Tenho desamparos em tantos rostos e versos. Espreito as ausências que dilaceram minha vida interna. A alma que teima doer e pernoitar no corpo. -sem lágrimas ou ventos- Danoso é viver na espera. É serenar o amor que visita. O amor que ampara as palavras. Os espaços refrescam a casa e minha vontade danada de renascer. Eu escapo e transbordo. Sou resistente e insisto em nascer. Viver dilacera e preenche. Amarguras são afetos mal curados. "Vinde que estou cansada" Esperança anuncia tempos nascidos. E meu descanso refrigera as imperfeições.