Rubem Braga: 100 anos

10/01/2017 00:00

            ?12 de janeiro de 2013, seu centenário!? Uma exposição no Palácio Anchieta marcou a passagem em nosso Estado. Acho que a exposição deveria ter começado por nossa cidade, na ?Casa dos Braga?. Penso: a interiorização das ações de governos não é intensa como a vida dos cronistas e poetas. Mesmo assim, a exposição foi uma boa iniciativa e, após ser apresentada pelo país afora, aguardamos sua chegada à nossa terra. Quatro livros nos ajudam a entender o escritor e ser humano nascido em Cachoeiro. Amante, como poucos, desta terra, aquele que, fez a crônica tornar-se uma forma literária reconhecida e desejada. Suas fotos lembram um homem ?ranzinza?, porém, seus textos desfazem a imagem inicial e fica um ser sensível, capaz de lembrar-se de coisas que só as crianças lembrariam. Coisas do mistério Rubem Braga.

 

            Para entender os mistérios de sua personalidade, os livros: ?Rubem Braga - Um Cigano Fazendeiro do Ar?, de Marco Antonio de Carvalho, uma Biografia; ?Na Cobertura de Rubem Braga?, de José Castello, histórias de seu apartamento, Rio de Janeiro, local para sua privacidade e convívio com os amigos, local para seu jardim; ?O Jornalismo Literário de Rubem Braga na Guerra?, de Cláudia Sabadini e Rondinelli Tomazelli, registro do cronista na Segunda Guerra Mundial, junto com a FEB em 1945, e seu retorno após 25 anos, à Itália; ?200 crônicas escolhidas de Rubem Braga? uma reunião de seus melhores textos de 1935 e 1977, da editora Record.

 

            Das ?200 crônicas?, algumas sobre a cidade: ?Em Cachoeiro?, de 1947, relata o Centro Operário em frente sua casa e da nobreza de Cachoeiro de Itapemirim, por conta de suas pessoas, um maestro da banda local, lembra um lorde; ?Histórias de Zig?, crônica sobre o cachorro da casa, enterrado sob o velho pé de fruta-pão do quintal; ?Quinca Cigano?, relata os pios de aves da família Coelho na Ilha da Luz e o velho tio, um cigano solitário; ?O Cajueiro?, é o relato da carta da irmã mais moça sobre a queda da árvore, lembra que foi em fim de setembro e estava carregada de flores; ?Os Trovões de Antigamente?, refere-se aos ecos do nosso vale e como são diferentes os trovões do velho são Pedro, em Cachoeiro; ?A minha glória literária?, é o despertar do cronista com suas composições e ironias.

 

            Entre as ?200 escolhidas?, gosto, também: ?A viajante?, trecho desta crônica encontra-se gravada na entrada da nossa Rodoviária, local que necessita de manutenção e ?O Mistério da Poesia?, cita os primeiros versos de um poema de autor desconhecido, é o bastante: ?Trabajar era Bueno em el Sur... Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos?. Explica a beleza do efeito poético e compara com versos de Camões: ?A grande dor das coisas que passaram?. Finaliza: o poético nasce do sentido solene que se dá as palavras de todo o dia.

 

            Voltando a Cachoeiro: ?Os sons de Antigamente?, lembra do relógio de sua casa, adquirido pela família, o ?relógio que não diz coisa com coisa?, como um amigo alertou. O relógio que marcou a morte do pai e da mãe, relógio que, por falta de zelo e da nossa memória, não existe mais.

 

Sergio Damião Santana Moraes

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