Subjetividade Médica

A arte atual, para os médicos, é discernir entre o físico e o psicológico

30/05/2023 10:18
Subjetividade Médica /Foto: Reprodução/Web

A medicina continua uma arte. Em tempos atuais, a arte da busca do entendimento da mente humana. Diferente de um passado de surpresas com o sexo de um bebê ou com o resultado de um pós-operatório de uma cirurgia abdominal. Nos dias atuais, o cirurgião, bem antes do procedimento anestésico, possui uma imagem perfeita da patologia que afeta o paciente e, o obstetra, familiares e pais, já têm conhecimento do sexo da criança por nascer. A arte atual, para os médicos, é discernir entre o físico e o psicológico. Para isso, o médico deve estar atento aos conhecimentos técnicos, científicos e, mais ainda, aos sentimentos humanos (carências e necessidades de cada pessoa). Deve acrescentar, desde a Escola de Medicina, outros conhecimentos, a leitura de autores clássicos como Machado de Assis, Dostoievski, Clarice Lispector... Os escritores que conheciam a psicologia e a alma humana. O médico não deve se fechar em seu saber técnico. Tudo é um contínuo aprendizado. Deve participar das Assembléias e Encontros de sua categoria profissional. Ouvir os avisos de alerta, as observações dos Conselheiros quanto ao registro nos prontuários e na relação com os pacientes e familiares, evitar erros pela falta de atenção aos pequenos detalhes na comunicação e relacionamento com aqueles que nos procuram para os cuidados. Usar o bom senso. Levar em consideração que o melhor local para os cuidados ao paciente é junto aos familiares, e sempre que possível, o mais rápido, deve retornar a sua residência, evitando-se assim, a internação hospitalar de longa permanência, altamente prejudicial ao relacionamento das famílias e um grande transtorno para a assistência médica hospitalar. O médico deve estar atento as distâncias que os pacientes percorrerão após o atendimento, principalmente no pronto socorro, dependendo da distância a medicação aplicada terá efeito durante o trajeto de retorno à residência, sonolência e acidente grave podem ocorrer; deve respeitar e ouvir uma observação de um paciente, muitas vezes, um colega de profissão, e não entender como intromissão em seu trabalho. Lembrar que todos nós temos um tempo biológico, que a morte não é o fim em si, nem uma derrota para o profissional da saúde, deve evitar terapêutica obstinada que fere a dignidade humana.

Por tudo isso, frequentemente, a análise de caso nos leva a julgar os fatos de maneira diversa. Em um desses casos, o paciente, jovem ainda, encontrava-se em hospital psiquiátrico, inicialmente um quadro psicótico agudo com delírios e risco de suicídio. Dias depois, o médico psiquiatra avalia o paciente e pergunta se ele ouvia vozes, o paciente responde que sim, ouvia vozes do lado de fora do consultório e a do próprio médico naquele momento. O médico ficou satisfeito e escreveu no prontuário: programar e preparar alta. Retorna dias depois e pergunta ao paciente o que ele desejava para o futuro. O paciente responde: montar um lava-jato, ganhar dinheiro, estudar medicina, ser médico e trabalhar com o senhor neste hospital. O médico escreve no prontuário: manter internação hospitalar. Motivo: delírio de grandeza.