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Meu olhar sobre Cachoeiro certamente é diferente do seu olhar


Meu olhar sobre Cachoeiro certamente é diferente do seu olhar. Nossos olhares nunca são iguais. Vão se modificando conforme o grau de afinidade, e com muitos outros fatores, com aquilo que vemos e sentimos. Quando vejo o meu neto Bernardo, vejo o menino mais belo e esperto de toda capital paulista. Mesmo sabendo que existe cor de olhos e pele mais bonita em outros meninos paulistanos. Nossos olhares se modificam com o tempo de vida; se alteram com os interesses econômicos e financeiros, bem como com as necessidades de um mundo de valores incertos. Muitas vezes, a impressão das coisas que vemos se modifica no piscar dos nossos próprios olhos. Vamos enxergando as coisas conforme nossos sentidos. Na verdade, somos péssimos juízes em causa própria, naquilo que nos afeta diretamente. É bíblico, desde os tempos de David, Betsaba, Urias e o profeta Natã.

Dias atrás, visitei meu sogro. Ele mora em Vila Velha, município Canela Verde Capixaba. Morador dos mais antigos da Prainha de Vila Velha, bem próximo ao Convento da Penha. Apresenta-se com mais de noventa anos. Dificuldade para deambular, entretanto uma lucidez perfeita. Exala paz e tranquilidade. Dever cumprido com as coisas da vida. Um conhecimento profundo e se assemelhando a um descendente de cultura Africana, de transmissão de conhecimento pela palavra, cultura oral: o idoso como uma biblioteca. Eu estava acompanhado por Fabíola, minha esposa. Conversamos. Quando saíamos, Fabiola disse: Pai, vamos ao cinema, eu e Sergio. Assistiremos Rei Leão. Ele disse baixinho, sim... Rei Lear. Já no carro, a caminho do Shopping, perguntei: Fabiola, você ouviu o que seu pai falou? Ela curiosa, disse: não, o que foi? Rei Lear. Eu falei, ele se lembrou da tragédia Shakesperiana. Na idade média, na Inglaterra, um rei para fugir às suas responsabilidades e permanecer com seus direitos - aproveitando as benesses do seu reinado, divide seu reino com seus dois filhos, esquecendo-se daquela que merecia de fato sua consideração: a filha. Rei Leão é uma adaptação dessa tragédia para o cinema, realizada pela Walt Disney. Uma bela história para refletirmos sobre a necessidade de assumirmos nossas responsabilidades perante a vida. Assistimos ao filme. Um belo filme. Belas imagens.

Voltei para Cachoeiro. Visitei a Rua Bernardo Horta, Guandu e Beira Rio. Algo mudou, não vejo os moradores de rua que se encontravam próximo ao Teatro Rubem Braga, na beira do rio Itapemirim. Quando retornava para nossa cidade, vi pela janela do carro, caminhando pela BR 101, vários Andarilhos, muitos deles apresentam doença mental. Em Cachoeiro, pela Beira-Rio, outras ruas e bairros de periferia vemos um homem alto, forte, cor branca, cabelos alvoroçados, muitas vezes sem camisa, se assemelhando aos Andarilhos da BR 101. Um Andarilho urbano. Faz tempo que o vejo pelas nossas ruas, confesso que quando caminho pela Beira-Rio, e o vejo ao longe, mudo meu trajeto. Não sei se o meu olhar assustado é o seu olhar. Mas bem que ele merece ser observado pela Defesa Civil, antes que uma tragédia aconteça.

 

Sergio Damião Santana Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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