Lições ao entardecer - Jornal Fato
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Lições ao entardecer

É o primeiro livro da Kelly Vargas Wandermuren Thompson


É o primeiro livro da Kelly Vargas Wandermuren Thompson. Cachoeirense, bacharel em direito, psicóloga, mãe da Eduarda e Bruno. Casada com o cardiologista Marlus Thompson - Coordenador da UTI e da Residência Médica do HECI. Bruno é autista e a fonte de inspiração para o livro. No livro nasce uma escritora promissora para a literatura cachoeirense. Nos próximos anos: Pensamento para dividir (crônicas) e Numa esquina do tempo (romance). Lição ao entardecer é prefaciado pelo Marlus. Ele chama a atenção, para a necessidade de ficarmos atentos, pois as lições estão em todos os lugares impossíveis e invisíveis apenas aos distraídos e dispersos. Em seu entender as lições não virão até nós, devemos ir ao seu encontro. Bruno, personagem principal do livro, desperta a irmã Eduarda. Com sensibilidade aguçada, ela conta as estripulias do irmão: Um homem de um metro e noventa centímetros de altura e desafiador do tempo em suas várias formas. Ele canta, chora e ri de uma maneira peculiar e em pequenos atos que o faz continuar uma criança de um encanto particular.  Em 152 páginas, Kelly vai aos poucos nos mostrando as lições dos seus últimos 17 anos de vida. Apresenta as dificuldades iniciais para reconhecer e aceitar o filho com TEA (Transtorno do Espectro Autista) e a falta de preparo dos profissionais e instituições.  Revela os primeiros anos de convivência com o autismo. Destaca a paciência como a melhor virtude para uma convivência familiar harmônica e o respeito às diferenças para o amadurecimento da sociedade. Alerta sobre a necessidade do diagnóstico precoce para as devidas intervenções. Diz: "Aceitar é tentar entender, deixar de olhar para si e procurar olhar para o outro." Fala dos preconceitos e da Lei 12.764/2012 (Lei Berenice Piana - os direitos do TEA).

Um depoimento instigante: A solidão e seus espaços vazios. "Quando me tornei mãe percebi que esses momentos de absoluta solidão que me eram preciosos tornar-se-iam raros e inconstantes. Não que me importasse ou quisesse a todo custo ter esses momentos, mas a falta ou a preocupação de estar longe dos pequenos é realmente um tipo de solidão que não traz sossego." Conclui: Aprendi nessas lições que podemos ser boas companhias a nós mesmos e podemos ensinar aos nossos filhos a serem gentis consigo. Kelly faz algumas observações: Essas crianças possuem uma tendência a experimentar até a exaustão as sensações que lhes causam prazer. Sobre o tempo, os autistas são peritos em presenciá-los. É como se estivessem por vezes e longos períodos diante de uma primorosa obra de arte. Ficam assim, imóveis, apaixonados por bolhas de sabão. Conseguem sorrir ao ouvir o canto de um pássaro ou colarem os olhos na janela só para assistirem a chuva deslizando pelo vidro, serpenteando até encontrar a soleira. Uma das características marcante do TEA são seus movimentos (por isso a necessidade da prática esportiva). Kelly nos ensina acerca de autismo, suas particularidades e desafios, da maneira que aprendeu: devagar, em detalhes, sem pressa, e com a mesma paciência que cuidou do Bruno em seus 17 anos de vida.

 

Sergio Damião Sant'Anna Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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